07.04.2020 Views

Livro "São Pedro de Canedo, História de uma Vila" - 2ª Edição

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

São Pedro de Canedo – História de uma Vila

Depois do convénio de Gramido, Zeferino recolhera às Lamelas com

alguns dos seus primitivos legionários. Ele tinha passado transes amargos.

Juntara-se ao aventureiro Reinaldo MacDonnell, em Guimarães, quando o

escocês descia do Marco de Canaveses para Braga; esteve nas barricadas

da Cruz da Pedra quando o barão do Casal espatifou a resistência daqueles

desgraçados iludidos pelo caudilho estrangeiro; foi dos primeiros a fugir por

Carvalho de Este, a compreender a inutilidade da defesa, e por montes e

vales deu consigo em Porto de Ave, e daqui foi para Guimarães, onde se

aquartelaram o MacDonell com o seu estado-maior. Logo que chegou foi

procurar o tenente-coronel Cerveira Lobo, que fazia parte do cortejo do

general. Mandaram-no ao palacete do visconde da Azenha, onde o escocês

se tinha aquartelado com o seu estado-maior.

O Cerveira Lobo estava a beberricar conhaque velho copiosamente

sobre uma ceia farta, comida sem sobressaltos. À mesa, onde faiscavam os

cristais dos licores, avultavam, cintilando os metais das suas fardas, o

quartel-mestre-general Vitorino Tavares, de Fagilde, José Maria de Abreu,

ajudante-de-ordens, o morgado de Pé de Moura, o Cerveira Lobo e o

Sebastião de Castro, do Covo, comandante do batalhão de voluntários

realistas de Oliveira de Azeméis, que arredondava 42 praças, e seu irmão

António Carlos de Castro, ajudante-de-ordens do general – dois homens

gentilmente valorosos; – o coronel Abreu Freire, morgado de Avanca, e o

Bandeira de Estarreja que é hoje padre.

A noite era de 27 de Dezembro de 1846, muito fria. Bebia-se forte. A

garrafeira da casa do Arco era um calorífico. O MacDonell, muito rubro,

naquela bebedeira crónica que lhe assistiu na vida e na morte, esmoía a

ceia passeando num vasto salão, de braço dado com uma formosa senhora

da casa, D. Emília Correia Leite de Almada. Dirse- ia que o bravo

septuagenário tinha vencido uma batalha decisiva, e procurava matizar

com flores de Cupido os seus louros de Mavorte. E o Cerveira Lobo bebia e

relatava proezas dos seus saudosos dragões de Chaves com gestos bélicos

e as pernas desviadas como se apertasse nas coxas a sela de um cavalo

empinado no fragor da peleja. Nisto entrou um camarada, às 11 da noite, a

chamar apressadamente o quartel-mestre-general, que o procurava com

muita urgência um capitão de atiradores do batalhão do Pópulo.

O Vitorino de Fagilde encontrou na sala de espera o capitão Pinho Leal,

um robusto e jovialíssimo rapaz, de trinta anos, com uma fé política,

714

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!