original
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
urbano e dando-lhe elementos vitais à sua identidade. Muitas vezes, suportaram, ao longo
dos tempos, novos usos sendo a estrutura formal a mesma, como exemplificam os casos
dos anfiteatros de Lucca, de Florença, de Arles e de Nimes, do Teatro Marcellus em Roma,
da Piazza Navona (fig.3 - 4 e fig. 6), da catedral de Siracusa ou da cidade de Split. Este
último é paradigma das ambiguidade da distinção entre cidade e arquitectura. Um palácio
que se transforma em cidade, onde espaços domésticos evoluem para espaços urbanos. A
reutilização de uma estrutura formal, não é condicionada pela função a que foi destinada e
portanto responde perfeitamente a novos usos. A estrutura cartesiana do palácio, dos seus
percursos e dos seus pátios, transforma-se em ruas e praças, que vão sendo preenchidas
por uma densificação habitacional. Esta, respeitando a macroestrutura do palácio e agora
da cidade, modifica alinhamentos, e a uma escala menor altera por completo a presença
dos edifícios antigos. No entanto os grandes equipamentos, mantêm-se com elementos
polarizadores, em redor dos quais se desenham as novas funções urbanas. No caso da
catedral de Siracusa, partindo de um templo grego, a matriz evolui para uma igreja cristã.
Neste caso, uma arquitectura que privilegiava o exterior e a relação com o espaço público
evolui para um espaço interior que privilegia a reflexão e a interiorização da arquitectura.
Aquilo que era exterior, o espaço entre colunas de ordem dórica torna-se na nave da igreja
confirmando um eixo dominante interior e longitudinal ao contrário da sua inicial condição
exterior. A economia de meios, permite a reutilização de antigas formas, sobrepondo
significações e culturas.
Álvaro Siza diz sobre Buenos Aires: “O tempo, com muitos arquitectos e inúmeros
habitantes, permite esta densidade e esta beleza que vemos quase com desespero nas
cidades antigas e que nos parece inatingível.” . Portanto, como em Buenos Aires, a densidade
de acontecimentos urbanos não é directamente decorrente da ausência de regra. Criada
com uma matriz geométrica bastante rígida, a evolução permitiu a sua densificação e
hierarquização. À imagem das cidades de fundação da antiguidade clássica, acontecimentos
como as colonizações europeias quinhentistas e seiscentistas, ou a posterior Revolução
Industrial, provocaram a necessidade de criar novas cidades e zonas urbanizadas. Não se
pode esperar construir a cidade instantaneamente, como Siza refere no seu texto sobre o
Bairro da Quinta da Malagueira , onde afirma que só com o Tempo a evolução das cidades
atinge a imagem das cidades antigas. No entanto Siza assume utilizar elementos formais
para atrair funções não planeadas no projecto inicial. É o caso do aqueduto que além da
sua função infraestrutural, quando entra em contacto com a malha habitacional permite
a construção posterior de programas de apoio. “Assim, tentei por meio de elementos de
funcionalidade pública desencadear o processo de mistura de funções. No remate de cada
Álvaro Siza, Évora - Malagueira, in Imaginar a Evidência, p. 124
Álvaro Siza, Évora - Malagueira, in Imaginar a Evidência