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obsessão.” 92
Sendo plausível falar da História como auxiliar de projecto, no sentido de estudo histórico
dos vários lugares em que o arquitecto intervém enquanto elemento fundamental para o
arquitecto se tornar “seu habitante” (Siza), no Parque da Quinta da Conceição é um pouco
diferente. No Parque a história que auxilia o projecto está presente nos restos do convento
que são manipulados e utilizados como material de construção. À semelhança das escadas e
dos caminhos os fragmentos do convento são utilizados como conformadores do parque e da
paisagem que Távora pretende construir. O arquitecto evoca o passado do lugar, da Quinta
da Conceição, suportando e relacionando-se com a memória sentida naquelas pedras e
naqueles muros recortados pelo tempo.
“(...) os monumentos devem dessacralizar-se no sentido de converter parte da cidade em
topografia e em material construtivo de que podem servir-nos.” 93
Rossi apresenta uma nova visão dos monumentos e das zonas históricas. Assim como para
Rossi as soluções dos problemas da actualidade não são diferentes das soluções aplicadas
na arquitectura da cidade do passado, também para Távora a arquitectura abarca toda a
dimensão da memória, da evolução cultural do Homem. “Sem produzir novos modelos, cada
obra é um percurso de reflexão que do sítio abarca toda a cidade e, no sítio, fixa a forma, cada
forma.” 94 . Ou como também disse mais tarde Alves Costa: “... com uma postura próxima da
simplicidade com que os nossos mestres pedreiros sempre encararam a continuação ou
alteração das obras dos seus predecessores.(...) Távora trabalha e molda a preexistência,
usa-a como matéria de projecto. Relê nela o fluir da história e, aceitando sobreposições
ou aposições estilísticas ou de linguagem, usa de todos os meios para o clarificar.” 95 Este
artigo em 1998 retoma o tema que Távora anuncia desde o início da sua obra (após os seus
primeiros projectos “europeus” que reflectiam o discurso internacional que então chegava a
Portugal). O Parque da Quinta da Conceição e a Casa de Ofir (1957/58) anunciam a terceira
via que Távora defende e desenvolve após o Inquérito à Arquitectura Popular. A terceira
via é na realidade a arquitectura no sentido mais puro. Uma arquitectura que é erudita e
popular simultaneamente pretendendo voltar ao anonimato da intervenção e à aventura de
fazer cidade. Távora na Quinta da Conceição e na Casa dos 24 (2000) opta pela evocação
da memória dos sítios. Na Casa dos 24 tenta retomar a escala do confronto entre as duas
massas: a Sé e o seu projecto. Sem função definida a Casa dos 24 é escultura e arquitectura
simultaneamente, que cumpre desde logo o seu propósito: recusar o distanciamento entre
92 Fernando Távora citado por Jorge Figueira, Fernando Távora - Coisa Mental (entrevista de Jorge Figueira),
in Unidade 3, p. 103
93 Aldo Rossi, Ciudad y Proyecto, in Proyecto y Ciudad Historica - I Seminário Internacional de Arquitectura
en Compostela, p. 19
94 Alexandre Alves Costa, Alguns Fragmentos, in Fernando Távora (Catálogo de Exposição na Corunha),
p. 59
95 Alexandre Alves Costa, Alguns Fragmentos, in Fernando Távora (Catálogo de Exposição na Corunha),
p. 60
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