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6.4 - A ruína como instrumento e tema de projecto

“.... los monumentos deben desacralizarse en el sentido de convertir parte de la ciudad en

topografia y en material constructivo del que podamos servirnos.” 80 .

A ruína não é apenas usada como material de projecto, esta é por vezes usada simultaneamente,

como material de construção. Noutras intervenções a ruína nem existe como verdadeira. Pelo

contrário, é inventada, como uma memória que não existiu, mas que é simulada para passar a

existir. Os muros do mercado de Carandá são exemplo da criação de uma memória inventada

assim como o Concurso para a Casa Karl Friedrich Schinkel ou a casa 2 em Nevogilde.

Exemplos do uso literal da ruína podem ser encontrados em diversas obras de Souto Moura

como os pedaços de frisos colados num muro de pedra na casa na rua Miguel Torga no Porto,

pedaços de mármore que enriquecem o espaço da clínica dentária no Amial, o que resta das

armaduras de uma laje que foi removida na remodelação de um apartamento em Braga. É

a ruína do café junto ao mercado do Carandá, que é usada como matéria, constrói dentro e

com a ruína. A ruína é parte integrante do projecto.

“(...), é a ruína operacional... a obra não tem nada a haver com a ruína, mas tem a haver com

o material disponível que dá para fazer uma obra...” 81 .

Eduardo Souto Moura através da ruína, significa e dá significado aos sítios. É um “exemplo

moral” 82 na paisagem, é o elemento que garante uma dignificação do lugar, a valorização

social e psicológica de uma paisagem.

Quando o arquitecto pode manter a ruína no seu estado “fatal”, confere-lhe um lugar no

projecto, mas sujeita-a à passagem do tempo. À falta de uma memória, desenha, inventa, cria

a memória do sítio, conta o seu “passado” para justificar um futuro.

“ Souto Moura inventa histórias quando não existe história, constrói os sinais do tempo para

os preservar e qualifica a sua narrativa com a dignidade dos materiais naturais...” 83 .

Eduardo Souto Moura percebe o significado da paisagem, além da importância da ruína em

si. Actua topograficamente, cria um cenário, o cenário necessário para contar uma história,

à qual atribui memória com a ruína inventada. Não apresenta a dedicação historicista

“arqueológica” de Távora perante o existente.

A relação da ruína com a paisagem, desde alguns séculos atrás apresenta uma importância

conhecida.

Na Idade Média, a ruína ganhou pela primeira vez, significado entre as sociedades. A

80 Aldo Rossi, Ciudad y Proyecto, in Proyecto y Ciudad Historica - I Seminário Internacional de Arquitectura

en Compostela, pag 19

81 Eduardo Souto Moura, A Ambição à Obra Anónima (numa conversa com Eduardo Souto Moura), in

Eduardo Souto Moura, (ed. 2000), p. 31

82 Chateaubriand (1802) citado por Carlo Carena, Ruína-Restauro, in Enciclopédia Einaudi - Volume 1

Memória-História p. 111

83 Alexandre Alves Costa, Reconhecer e Dizer, in Architécti nº 5, p. 103

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