original
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
onde a obra é pública e encontra-se num contexto urbano, Eduardo Souto Moura sente a
necessidade de ter uma história à qual se agarrar, dessa forma usa os caminhos existentes e os
muros inventados. Posteriormente, para realizar o projecto do café, usa a preexistência como
“ruína operacional”. Não importam tanto as histórias do sítio, importa sim a capacidade de
conferir memória através do material disponível.
Anos mais tarde, quando lhe foi encomendada nova intervenção no mercado, o arquitecto
sente que este edifício merece que lhe seja conferido um carácter de monumento. Dessa
forma o projecto mostra as suas “entranhas”, o passado arruinado personificado nas
armaduras expostas dos pilares, nas colunas tombadas. O arquitecto tenta “ressuscitar” o
espaço, mudando o carácter da obra perante a população, perante a cidade.
Eduardo Souto Moura actuou sobre o existente - que neste caso em especial era ruína de
um projecto seu, uma história contada por ele mesmo no passado - de forma a conferirlhe
um estatuto de ruína só possível com a criação de uma imagem de algo que pertence
ao passado. Desta forma tenta criar um mecanismo mnemónico na população para assim
simular a aproximação à Natureza e desta maneira fazer esquecer o abandono a que o
mercado foi sujeito.
“Ao desenhar a ruína (no primeiro projecto) tenta referenciar-se a uma memória do lugar
(caminhos existentes e muros que os recordam), mas ao destruir para construir, ao provocar
uma nova ruína, procura referenciar-se a uma história que já passou para a cidade (o mercado),
como forma de caracterizar a sua nova função.” 73
73 Excerto do trabalho de grupo da cadeira de História da Arquitectura Contemporânea, 5º ano,
2004/2005
65