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Cardoso soluções projectuais que influenciaram o seu método projectual. Nestas casas a

ideia de inventar um fragmento ou corpo fragmentado está presente. Assim no projecto criase

uma imagem de quebra, de rompimento, para mostrar algo de novo contido no interior de

forma. Ao simular a quebra permite à arquitectura participar na evolução da cidade. Ambos

os projectos de Siza parecem recordar a temática romântica de criar, inventar, uma ruína

no jardim. Existe a necessidade de desenhar um passado, uma imagem deste, pois “não é o

lugar que dá fama à ruína, é esta que enobrece e embeleza o lugar” 65 . Portanto parece claro

que, à semelhança de Siza Vieira, quando Eduardo Souto Moura não tem preexistências

arquitectónicas, cria-as, inventa-as para argumentar uma implantação, uma linguagem, uma

topografia e uma paisagem.

Na ruína

“Há no abrigo do Gerês (1980-82), primeira obra construída por E.S.M. uma certa inocência

que o próprio assume, respeitando a preexistência e realçando-a com os novos materiais,

sobretudo o pano de vidro.” 66 Da mesma forma em projectos mais recentes como a

recuperação da pousada de Santa Maria do Bouro (1989-97) e da Alfândega (1990-), fazer

novo não significa alterar tipologias ou implantação, mas sim “… dar continuidade, para

aproveitar, como que por economia de meios compensada pela qualidade dos materiais e

do desenho de detalhe” 67 . A linguagem essa sim é totalmente moderna, pois as técnicas não

são as mesmas de outrora e não faz sentido construir com os métodos antigos. Assim, E.S.M.

aproveita do existente a carga de uma história e assume-a para si e para os seus projectos.

Souto Moura pretende exaltar a ruína quase como se esta permanecesse intacta mesmo

quando é profundamente manipulada, mantendo sempre a sua essência.

Ao lado da ruína

Em Baião (1990-93) esta atitude ainda é mais evidente porque deixa a ruína como o fim de um

ciclo em que o edifício atingiu o seu estado maior, porque a ruína deixa de ser Arquitectura

e passa a ser Natureza. Aqui a construção está “ao lado” da ruína. A ruína faz parte da

casa, mas como um jardim de inverno. A Natureza consome este espaço, absorve-o com a

sua vegetação, até que qualquer parte do muro e das paredes da antiga casa deixem de ser

visíveis. Nesta obra encontramos a intenção de manter o processo natural da ruína até esta

se tornar parte da Natureza; encontramos a vontade de oferecer uma morte digna à ruína,

deixando-a ao cuidado das intempéries.

Com peças de ruína

Mas quando não existem ruínas suficientemente fortes para cumprir esta função, como é que

E.S.M. encara esta abordagem? “Podemos falar de fragmento “colado” no interior de uma

65 Lord Byron citado por Carlo Carena, Ruína-Restauro, in Enciclopédia Einaudi - Volume 1 Memória-

História, p. 109

66 Excerto do trabalho de grupo da cadeira de História da Arquitectura Contemporânea, 5º ano,

2004/2005

67 Alexandre Alves Costa, Reconhecer e Dizer, in Architécti nº 5, p. 103

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