original
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
6 - Percurso até à Natureza - Eduardo Souto de Moura
“o fim dos edifícios é serem boas ruínas” 62
“porque a ruína deixa de ser Arquitectura e passa a ser Natureza. E mantive a ruína para
manter essa pretensão de ser quase obra natural, anónima. “ 63
O arquitecto Eduardo Souto Moura projecta com todos os instrumentos que lhe permitam
justificar uma ideia. A ideia é na maior parte das vezes argumentada por uma regra que é
logo de seguida questionada por oposição e contraste. Esta ideia é muitas vezes baseada na
relação da ruína com o novo e da ruína com o sítio.
Na obra de Eduardo Souto Moura, a ruína é parte do processo de fragmentação ou é ela
própria o fragmento a ter em conta. A ruína adquire diferentes identidades e significados de
acordo com a intenção do próprio projecto. O método projectual varia de acordo com a
relação com a ruína, ou com a manipulação da própria peça arqueológica. Aparentemente é
difícil perceber nesta variedade uma ideia de evolução ou percurso. A ruína é encarada como
instrumento que justifica e suporta o projecto.
Na obra inicial de Souto Moura a influência de Álvaro Siza é clara. As soluções projectuais
são semelhantes, como as que se encontram presentes na relação entre a casa Alcino Cardoso
com a casa do Baião ou a casa em Moledo. Nestas obras o projecto supera a condição de
edifício e torna-se o desenho duma nova Natureza, socalcos à imagem da paisagem, onde
se encaixa a casa, um pano de vidro encimado por uma laje.
Nesta abordagem da obra de Souto Moura, não é pretensão construir uma qualquer cronologia
ou demonstração de um processo mental, pretende-se apenas uma leitura fragmentária para
sustentar novos temas, com todas as restrições que este método implica.
Invenção da ruína/fragmento
“Vejam-se projectos como a casa para Karl Friedrich Schinkel”, Leça da Palmeira - 1979; a
casa 2 em Nevogilde (1983) e o Mercado do Carandá (1980), projectos nos quais a ruína
aparece como uma criação, uma invenção do sítio, quase como uma necessidade de criar
memória e estabelecer através dela as relações natureza-construção” 64
Eduardo Souto Moura encontra na Casa Beires de Álvaro Siza ou na piscina da Casa Alcino
62 Perret citado por Eduardo Souto Moura, A Ambição à Obra Anónima (numa conversa com Eduardo
Souto Moura), in Eduardo Souto Moura, (ed. 2000), p. 31
63 Eduardo Souto Moura, A Ambição à Obra Anónima (numa conversa com Eduardo Souto Moura),
in Eduardo Souto Moura, (ed. 2000), p. 31
64 Excerto do trabalho de grupo da cadeira de História da Arquitectura Contemporânea, 5º ano,
2004/2005
53