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5.3 - Casa Alcino Cardoso, Moledo do Minho, 1971-73
“La piscina, proyectada más tarde, ha sido diseñada como uma ruina inventada a partir del
recuerdo de las muchas cosas que pertenecem al paisaje del Miño, y también a otros paisajes.
Está orientada siguiendo el recorrido del sol y querría estar en relación con todo lo que la
rodea - lo nuevo y lo viejo - como si fuese un intermediario o una (im)posible síntesis.” 57
Esta obra é essencialmente a reconversão de um conjunto de habitação rural com a respectiva
quinta, numa casa de férias. Este projecto divide-se em 3 fases distintas.
Numa primeira fase Álvaro Siza cria uma nova ala de quartos que penetra num dos corpos
do velho conjunto edificado. Esta ala, diferencia-se do antigo, e como Alves Costa afirma: “o
momento de encontro do novo e do recuperado, agora penetração física e não apenas virtual
é expressivamente enfatizado (...)” 58 . Como em São Victor este encontro é assumidamente
apoiado na linguagem que, sendo expressão de um confronto da existência com o novo,
participa no diálogo com a realidade. É o pano de vidro, como na Casa Beires, que cicatriza
a ferida da intervenção do arquitecto. Porém a cortina de vidro, na leveza dos seus pinázios
que remetem para as tradicionais janelas de guilhotina, apresenta um processo artesanal de
fabrico que já se perdeu. No entanto o uso desta técnica não é sinónimo de algum discurso
que dependa unicamente da tradição como método de projecto. Pelo contrário, Álvaro Siza
encara todo o conhecimento como instrumento da arquitectura.
A implantação deste projecto é uma releitura dos socalcos, fazendo com que o corpo de
quartos envidraçado pertença a um deles. O pano de vidro é lido como mais um muro dos
socalcos.
Numa segunda fase, o desenho da piscina completa o socalco, uma piscina à imagem de
um tanque agrícola, onde “o elemento escultórico de entrada da água na piscina é terreno
aberto, o monumento à essência perene da arquitectura que, como no principio, não é mais
do que marca de posse da terra e de respeito pelos elementos da Natureza.” 59 . Esta peça
é essencial para perceber a importância da manipulação da memória. Apesar de ser uma
construção totalmente nova, desenhada de raiz, esta não é puramente funcional, e apresenta
um outro carácter. Simula uma presença com a marca do “tempo”, uma história. Num dos
esquissos preliminares o portal de entrada na piscina era desenhado como um muro semidestruído,
como se as pedras do seu aparelho fossem perecendo com o tempo (fig. 51).
Uma falsa ruína, “romântica”, que contribui para “um pathos aparentemente arcaico, mas
cronologicamente indefinido, que é consciente e selectivamente manipulado pelo arquitecto
57 Álvaro Siza, Casa Alcino Cardoso en Moledo do Minho 1971, in Álvaro Siza Casas 1954-2004, p.
72
58 Alexandre Alves Costa, Álvaro Siza, p. 28
59 Alexandre Alves Costa, Álvaro Siza, p. 29
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