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“Pensemos en el caso de Siza.(...) Hay en este una especie de locura que tiene que ver
con el temperamento portugués y que alcanza su cenit en la experiencia de Pessoa. Los
heterónimos de Pessoa expresan de hecho, la búsqueda de una identidad” 37 . Esta afirmação
de Távora relativamente à actividade de Siza nos mais variados contextos mostra como o
método projectual de Siza é consequência do modo próprio, simultaneamente desdobrado
e único de ver o mundo. Siza usa a colagem de linguagens à imagem de Fernando Pessoa.
Distingue-se no entanto deste autor pela mistura das arquitecturas a que se referencia, pois em
Fernando Pessoa cada heterónimo é individual e supõe uma linguagem própria coerente. O
arquitecto não sente a necessidade de assumir uma única linguagem, transforma os conceitos
e linguagens formais de vários arquitectos que elege como referência para o seu próprio
discurso. Os diversos heterónimos de Siza constituem-se como um só espírito.
Este torna-se mais holandês do que os holandeses e mais alemão do que os alemães.
“Depois nós montamos esses bocados, criando um espaço intermédio, transformando-o numa
imagem, e damos-lhe um sentido, de modo que cada imagem signifique alguma qualquer
coisa à luz das outras. Transformar o espaço do mesmo modo pelo qual nos transformamos
a nós próprios: mediante fragmentos comparados com os “outros”.“ 38 “Nenhum sítio é um
deserto. Posso sempre ser um dos habitantes.” 39 O arquitecto apresenta a sua própria ideia de
arquitectura para cada lugar, antecipando um qualquer argumento geográfico ou histórico.
Estes argumentos - os geográficos ou históricos - podem funcionar como instrumentos
projectuais que suportam a intervenção imaginada pelo arquitecto. Ao contrário daqueles
que defendem que a ideia está no lugar, a resposta do arquitecto baseia-se na ideia de
transformação, de evolução e de fragmento.
De cada transformação - desassossego da forma - que acontece no projecto, emerge o
fragmento. Siza diz: “Cada desenho, deve captar com o máximo rigor, um momento preciso
da imagem palpitante, em todas as suas tonalidades, e quanto melhor puder reconhecer essa
qualidade palpitante da realidade, mais claro será” 40 . Numa imagem fixa, linear, contínua,
não cabe tal proposta. A forma fragmentada parece ser uma resposta mais flexível à natureza
complexa e multifacetada do projecto, capaz de responder a diversas situações, lugares, a
diversos programas, projectos.
As obras que se apresentam neste estudo - a Casa Beires 1973-76, a intervenção SAAL no
quarteirão de São Victor 1974-77 e a Casa Alcino Cardoso 1971-73 - abordam de diferente
modo a condição fragmentária. Nestes projectos o fragmento não é método fixo, a ruína
não está sempre presente como matéria de projecto. Em Siza tudo é matéria de projecto,
enquanto contribuir para a solução.
37 Fernando Távora, Nulle dies sine linea - Fragmentos de una conversación con Fernando Távora, in
DPA 14 Távora, p. 11
38
Álvaro Siza, Prefacio, in Alvaro Siza - Professión poética/Profissão poética, p. 7
39 Álvaro Siza, Oito Pontos, in Álvaro Siza : escritos, p. 27
40
Kenneth Frampton, Historia crítica de la arquitectura moderna, p. 322
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