original
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
6.5 - A ruína como justificação da abstracção
“a abstracção como momento do conhecimento estabelece uma nova relação com a natureza
que, levada às últimas consequências, conduzirá ao definitivo abandono de toda a referência
formal com esta.” 87
Apesar das diferentes atitudes perante a ruína e perante o existente, a vontade de fazer novo
utlizando a abstracção, une os vários projectos e as várias abordagens ao sítio.
Eduardo Souto Moura sente (tal como Monestiroli) que “a noção que regra todo o processo
é a proporção” 88 , e portanto, para ele, o meio da arquitectura se aproximar da Natureza é
pela proporção. O meio da arquitectura seguir até à Natureza, de atingir a sua perfeição, é
pela ruína.
Mas esta abstracção, típica no modernismo, foi criticada por não considerar a leitura do
lugar, na sua abrangência cultural, formal, social e material. Parece que o uso recorrente
da ruína reforça a ligação ou união ao existente expondo aquilo que é essencial na forma
da arquitectura sendo assim um instrumento para justificar o uso da abstracção. Quando o
edifício caiu, está num processo crepuscular, e portanto não faz sentido nem reconstruir, nem
construir com as mesmas técnicas e linguagens. Tenta “convencer” a sociedade e o lugar, de
que a ruína é o fim anunciado, sendo necessário alternativas. Assim suporta a utilização de
uma nova linguagem baseada na abstracção e anonimato utilizando materiais naturais.
Existe uma realidade e uma vontade de fazer moderno, de contraste, de uso de materiais e
métodos construtivos novos. Na realidade é tão válido usar materiais novos como materiais
tradicionais. Ambos os processos são usados por Eduardo Souto Moura: constrói muros de
pedra, ou muros de betão revestidos a pedra, mas em contraste também constrói “muros de
vidro”.
Para Eduardo Souto Moura a vontade de usar os materiais da modernidade justifica o uso da
ruína ou a sua invenção para argumentar o seu projecto.
O que significa a ruína? Será que pretende mostrar na degradação dos materiais, dos
sistemas construtivos do passado, uma justificação e autorização para usar novos sistemas de
construção e os materiais da modernidade?
O vidro, o aço, a cobertura plana, são aqui usados em contraste com o passado, acentuando
o corte, denunciando um novo tempo. Um tempo que pretende continuar a utopia clássica
de aproximação à Natureza.
87 Antonio Monestiroli, Arquitectura, naturaleza, historia - Las formas de la analogía en el lenguaje arquitectónico,
in La Arquitectura de La Realidad, p. 206
88 Antonio Monestiroli, Arquitectura, naturaleza, historia - Las formas de la analogía en el lenguaje arquitectónico,
in La Arquitectura de La Realidad, p. 206
81