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6.1 - O Mercado de Carandá, Braga, 1980 - 84

Num caminho para o nada surge a obra.

Assente numa preexistência, num muro, num caminho romano segundo o arquitecto,

o mercado apresenta-se como uma linha apenas, um gesto só. O mercado é resultado

da tentativa de estruturar o crescimento da cidade, de lançar uma malha, que suporte o

desenvolvimento da zona.

Deste gesto surgem uma série de muros que articulam espaços e vivências. A imagem

exterior da obra é determinada por grandes planos que não se intersectam, demonstrando

uma influência referente às obras neoplásticas de Mies Van der Rohe. Os planos brancos,

opacos, contrastam com a textura enrugada dos muros de granito aparelhado. As colunas

que suportam o plano horizontal de betão, quase etéreo, criam uma realidade para o exterior

de carácter plástico, quase abstracto. O mercado esconde no seu interior uma espacialidade

marcada por 3 naves definidas pela sucessão de colunas. Por oposição ao exterior, no interior

está presente a analogia com formas associadas aos lugares de comércio recorrentes ao longo

da história, locais como as stoas gregas.

A base estrutural deste edifício assenta numa rede de pontos, que distam 8 x 6.5 metros, ou

seja, numa sucessão de colunas que dá ritmo ao percurso e estabelece a divisão espacial

na qual se apoia uma cobertura plana em duplo balanço. É interessante perceber como a

imagem do mercado contrasta com o seu sistema estrutural, uma vez que a cobertura está

sustentada pela colunata e não pelos muros, como poderia parecer à primeira vista.

Numa primeira abordagem à planimetria apresenta-se portanto uma métrica rígida que se

traduz num esquematismo, nalguma abstracção, que todavia não se sente na vivência do

espaço. Fica sim a presença forte dos elementos por si articulados, criando o espaço como

uma síntese.

O edifício apresenta um carácter de flexibilidade de usos. Talvez a forma do edifício tenha

superado a sua função: “La forma del edificio es más fuerte que su contenido ideológico, o si

queréis es indiferente respecto a su contenido ideológico.” 71

A utilização do plano livre mais do que uma escolha linguística é um instrumento empírico,

um artifício, um modo de trabalhar para obter um certo grau de flexibilidade durante a

construção.

71 (acerca da mesquita Córdoba) Aldo Rossi, Aldo Rossi, Ciudad y Proyecto, in Proyecto y Ciudad Historica - I

Seminário Internacional de Arquitectura en Compostela, p. 21

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