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A CONFISSÃO DE LÚCIO

Untitled - Luso Livros

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Tive sempre grandes antipatias físicas, meramente exteriores. Lembro-me porexemplo de que, em Paris, a um restaurante onde todas as noites jantava comGervásio Vila-Nova ia algumas vezes uma rapariga italiana, deveras graciosa— modelo sem dúvida —, que muito me enternecia, que eu cheguei quase adesejar.Mas em breve tudo isso passou.É que a vira um domingo caminhando de mãos dadas com certo indivíduoque eu abominava com o maior dos tédios, e que já conhecia de o encontrartodas as tardes jogando as cartas num café burguês da Praça S. Michel. Eraescarradamente o que as damas de quarenta anos e as criadas de servirchamam um lindo rapaz. Muito branco, rosadinho e loiro, bigodito bemfrisado, o cabelo encaracolado; uns olhos pestanudos, uma boca pequenina —meiguinho, todo esculpido em manteiga; oleoso nos seus modos, nos seusgestos. Caixeiro de loja de modas — ah! não podia deixar de ser!…Embirrava de tal forma com semelhante criatura açucarada, que nunca maistinha voltado ao café provinciano da Praça S. Michel. Com efeito era-meimpossível sofrer a sua presença. Dava-me sempre vontade de vomitar emface dele, na mesma náusea que me provocaria uma mistura de toucinhorançoso, enxúndia de galinha, mel, leite e erva-doce…Ao encontrá-lo — o que não era raro — eu não sabia nunca evitar um gestode impaciência. Uma manhã por sinal nem almocei, pois, abancando num

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