todas. Porém, até hoje, raros a cultivaram nesse espírito. Venham cá, digamme:fremir em espasmos de aurora, em êxtases de chama, ruivos de ânsia —não será um prazer bem mais arrepiado, bem mais intenso do que o vagocalafrio de beleza que nos pode proporcionar uma tela genial, um poema debronze? Sem dúvida, acreditem-me. Entretanto o que é necessário é sabervibrar esses espasmos, saber provocá-los. E eis o que ninguém sabe; eis noque ninguém pensa. Assim, para todos, os prazeres dos sentidos são a luxúria,e se resumem em amplexos brutais, em beijos húmidos, em caríciasrepugnantes, viscosas. Ah! mas aquele que fosse um grande artista e que, paramatéria-prima, tomasse a voluptuosidade, que obras irreais de admiráveis nãoaltearia!… Tinha o fogo, a luz, o ar, a água, e os sons, as cores, os aromas, osnarcóticos e as sedas — tantos sensualismos novos ainda não explorados…Como eu me orgulharia de ser esse artista!… E sonho uma grande festa nomeu palácio encantado, em que os maravilhasse de volúpia… em que fizessedescer sobre vós os arrepios misteriosos das luzes, dos fogos multicolores —e que a vossa carne, então, sentisse enfim o fogo e a luz, os perfumes e ossons, penetrando-a a dimaná-los, a esvaí-los, a matá-los!… Pois nuncaatentaram na estranha voluptuosidade do fogo, na perversidade da água, nosrequintes viciosos da luz?.. Eu confesso-lhes que sinto uma verdadeiraexcitação sexual — mas de desejos espiritualizados de beleza — ao mergulharas minhas pernas todas nuas na água de um regato, ao contemplar um braseiroincandescente, ao deixar o meu corpo iluminar-se de torrentes elétricas,
luminosas… Meus amigos, creiam-me, não passam de uns bárbaros, por maisrequintados, por mais complicados e artistas que presumam aparentar!Gervásio insurgiu-se: "Não; a voluptuosidade não era uma arte. Falassem-lhedo ascetismo, da renúncia. Isso sim!… A voluptuosidade ser uma arte?Banalidade… Toda a gente o dizia ou, no fundo, mais ou menos o pensava…E por aqui fora, adoravelmente dando a conhecer que só por se lhe afiguraressa a opinião mais geral, ele a combatia.Durante toda a conversa, apenas quem nunca arriscara uma palavra tinhamsido as duas inglesinhas, Jenny e Dora — sem também despregarem ainda deGervásio, um só instante, os olhos azuis e louros.Entretanto as cadeiras haviam-se deslocado e, agora, o escultor sentava-sejunto da americana. Que belo grupo! Como os seus dois perfis se casavambem na mesma sombra esbatidos — duas feras de amor, singulares,perturbadoras, evocando mordoradamente perfumes esfíngicos, luas amarelas,crepúsculos de roxidão. Beleza, perversidade, vício e doença…Mas a noite descera. Um par de amorosos do grande mundo entrava arefugiar-se no célebre estabelecimento, quase deserto pelo inverno.A americana excêntrica deu o sinal de partida; e quando ela se ergueu eu notei,duvidosamente notei, que calçava umas estranhas sandálias, nos pés nus…nos pés nus de unhas douradas…
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estaurante que não frequentava hab
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Uma manhã vi de súbito alguém at
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ninguém… não podia experimentar
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— Que valem os outros, entanto, e
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A desventurada mal teve tempo para
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Passaram velozes os meus dez anos d
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angústia — e assim poder vê-las