A CONFISSÃO DE LÚCIO
Untitled - Luso Livros
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Tive sempre muito afeto ao célebre restaurante. Não sei… O seu cenárioliterário (porque o lemos em novelas), a grande sala de tapete vermelho e, aofundo, a escadaria; as árvores românticas que exteriormente o ensombram, opequeno lago — tudo isso, naquela atmosfera de grande vida, me evocava poruma saudade longínqua, subtil, bruxuleante, a recordação astral de certaaventura amorosa que eu nunca vivera. Luar de outono, folhas secas, beijos echampanhe…* * *Correu simples a nossa conversa durante a refeição. Foi só ao café queRicardo principiou:— Não pode imaginar, Lúcio, como a sua intimidade me encanta, como eubendigo a hora em que nos encontramos. Antes de o conhecer, não lidarasenão com indiferentes — criaturas vulgares que nunca me compreenderam,muito pouco que fosse. Meus pais adoravam-me. Mas, por isso exatamente,ainda menos me compreendiam, Enquanto que o meu amigo é uma almarasgada, ampla, que tem a lucidez necessária para entrever a minha. É jámuito. Desejaria que fosse mais; mas é já muito. Por isso hoje eu vou ter acoragem de confessar, pela primeira vez a alguém, a maior estranheza do meuespírito, a maior dor da minha vida…Deteve-se um instante e, de súbito, em outro tom: