A CONFISSÃO DE LÚCIO
Untitled - Luso Livros
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Marta parecia não viver quando estava longe de mim. Pois bem, pela minhaparte, quando a não tinha ao meu lado, coisa alguma me restava que,materialmente, me pudesse provar a sua existência: nem uma carta, um véu,uma flor seca — nem retratos, nem madeixas. Apenas o seu perfume, que eladeixava penetrante no meu leito, que bailava subtil em minha volta. Mas umperfume é uma irrealidade. Por isso, como outrora, descia-me a mesma ânsiade a ver, de a ter junto de mim para estar bem certo de que, pelo menos, elaexistia.Evocando-a, nunca a lograra entrever. As suas feições escapavam-me comonos fogem as das personagens dos sonhos. E, às vezes, querendo-as recordarpor força, as únicas que conseguia suscitar em imagem eram as de Ricardo.Decerto por ser o artista quem vivia mais perto dela.Ah! bem forte, sem dúvida, o meu espírito, para resistir ao turbilhão que osilvava…(Entre parênteses observe-se, porém, que estas obsessões reais que descrevonunca foram contínuas no meu espírito. Durante semanas desapareciam porcompleto e, mesmo nos períodos em que me varavam, tinham fluxos erefluxos.)Juntamente com o que deixo exposto, e era o mais frisante das minhastorturas, outras pequeninas coisas, traiçoeiras ninharias, me vinham fustigar.