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A CONFISSÃO DE LÚCIO

Untitled - Luso Livros

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E, numa transfiguração — todo aureolado pelo brilho intenso, melodioso, dosseus olhos portugueses —, Ricardo de Loureiro erguia-se realmente belo, esseinstante…Aliás, ainda hoje ignoro se o meu amigo era ou não era formoso. Todo deincoerências, também a sua fisionomia era uma incoerência: Por vezes o seurosto esguio, macerado — se o víamos de frente, parecia-nos radioso. Mas deperfil já não sucedia o mesmo… Contudo, nem sempre: o seu perfil, porvezes, também era agradável… sob certas luzes… em certos espelhos…Entretanto, o que mais o prejudicava era sem dúvida o seu corpo que eledesprezava, deixando-o "cair de si", segundo a frase extravagante, mas muitoprópria, de Gervásio Vila-Nova.Os retratos que existem hoje do poeta, mostram-no belíssimo, numa auréolade génio. Simplesmente, não era essa a expressão do seu rosto. Sabendotratar-se de um grande artista, os fotógrafos e os pintores ungiram-lhe a frontede uma expressão nimbada que lhe não pertencia. Convém desconfiar sempredos retratos dos grandes homens…— Ah! meu querido Lúcio — tornou ainda o poeta —, como eu sinto avitória de uma mulher admirável, estiraçada sobre um leito de rendas, olhandoa sua carne toda nua… esplêndida… loura de álcool! A carne feminina — queapoteose! Se eu fosse mulher, nunca me deixaria possuir pela carne doshomens — tristonha, seca, amarela: sem brilho e sem luz… Sim! num

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