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A CONFISSÃO DE LÚCIO

Untitled - Luso Livros

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E eis como principiou uma série de baixezas, de interrogações maldissimuladas, junto de todos os conhecidos do poeta — dos que deviam terestado em Lisboa quando do seu casamento.Para as minhas primeiras diligências escolhi Luís de Monforte.Dirigi-me a sua casa, no pretexto de o consultar sobre se deveria conceder aminha autorização a certo dramaturgo que pensava em extrair um drama deuma das minhas mais célebres novelas. Mas logo de começo não tive mãos emmim, e, interrompendo-me, me pus a fazer-lhe perguntas diretas, ainda queum tanto vagas, sobre a mulher do meu amigo. Luís de Monforte ouviu-ascomo se as estranhasse — mas não por elas próprias, só por virem da minhaparte; e respondeu-me chocado, iludindo-as, como se as minhas perguntasfossem indiscrições a que seria pouco correto responder.O mesmo — coisa curiosa — me sucedeu junto de todos quantos interroguei.Apenas Aniceto Sarzedas foi um pouco mais explícito, volvendo-me com umainfâmia e uma obscenidade — segundo o seu costume, de resto.Ah! como me senti humilhado, sujo, nesse instante — que difícil me foi sustera minha raiva e não o esbofetear, estender-lhe amavelmente a mão, na noiteseguinte, ao encontrá-lo em casa do poeta…Estas diligências torpes, porém, foram vantajosas para mim. Com efeito se,durante elas, não averiguara coisa alguma — concluíra pelo menos isto: queninguém se admirava do que eu me admirava; que ninguém notara o que eu

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