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A CONFISSÃO DE LÚCIO

Untitled - Luso Livros

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— É isto só: — disse — não posso ser amigo de ninguém… Nãoproteste… Eu não sou seu amigo. Nunca soube ter afetos — já lhe contei —,apenas ternuras. A amizade máxima, para mim, traduzir-se-ia unicamente pelamaior ternura. E uma ternura traz sempre consigo um desejo caricioso: umdesejo de beijar… de estreitar… Enfim: de possuir! Ora eu, só depois desatisfazer os meus desejos, posso realmente sentir aquilo que os provocou. Averdade, por consequência, é que as minhas próprias ternuras, nunca as senti,apenas as adivinhei. Para as sentir, isto é, para ser amigo de alguém (visto queem mim a ternura equivale à amizade) forçoso me seria antes possuir quem euestimasse, ou mulher ou homem. Mas uma criatura do nosso sexo, não apodemos possuir. Logo eu só poderia ser amigo de uma criatura do meu sexo,se essa criatura ou eu mudássemos de sexo."Ah! a minha dor é enorme: Todos podem ter amizades, que são o amparo deuma vida, a "razão" de uma existência inteira — amizades que nos dedicam;amizades que, sinceramente, nós retribuímos. Enquanto que eu, por mais queme esforce, nunca poderei retribuir nenhum afeto: os afetos não sematerializam dentro de mim! É como se me faltasse um sentido — se fossecego, se fosse surdo. Para mim, cerrou-se um mundo de alma. Há qualquercoisa que eu vejo, e não posso abranger; qualquer coisa que eu palpo, e nãoposso sentir… Sou um desgraçado… um grande desgraçado, acredite!"Em certos momentos chego a ter nojo de mim. Escute. Isto é horrível! Emface de todas as pessoas que eu sei que deveria estimar — em face de todas as

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