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A CONFISSÃO DE LÚCIO

Untitled - Luso Livros

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estonteada…Mais tarde, relembrando-me esta constatação, ajuntara:— O meu sofrimento mora, ainda que sem razões, tem aumentado tanto,tanto, estes últimos dias, que eu hoje sinto a minha alma fisicamente. Ah! éhorrível! A minha alma não se angustia apenas, a minha alma sangra. As doresmorais transformam-se-me em verdadeiras dores físicas, em dores horríveis,que eu sinto materialmente não no meu corpo, mas no meu espírito. É muitodifícil, concordo, fazer compreender isto a alguém. Entretanto, acredite-me;juro lhe que é assim. Eis pelo que eu lhe dizia a outra noite que tinha a minhaalma estremunhada. Sim, a minha pobre alma anda morta de sono, e não adeixam dormir — tem frio, e não sei aquecer! Endureceu-me toda, toda!secou, ancilosou-se-me; de forma que movê-la — isto é pensar — me faz hojesofrer terríveis dores. E quanto mais a alma me endurece, mais eu tenho ânsiade pensar! Um turbilhão de ideias — loucas ideias! — me silva a desconjuntála,a arrepanhá-la, a rasgá-la, num martírio alucinante! Até que um dia — oh! éfatal — ela se me partirá — voará em estilhaços. A minha pobre alma! aminha pobre alma!…Em tais ocasiões os olhos de Ricardo cobriam-se de um véu de luz. Nãobrilhavam: cobriam-se de um véu de luz. Era muito estranho, mas era assim.

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