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A CONFISSÃO DE LÚCIO

Untitled - Luso Livros

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estaurante que não frequentava habitualmente, o alambicado personagemtivera a desfaçatez de se vir sentar diante de mim, na mesma mesa… Ah! quedesejo enorme me afogueou de o esbofetear, de lhe esmurrar o narizinho numchuveiro de murros… Mas contive-me. Paguei e fugi.Ora encontrar essa pequena galante de mãos dadas com tamanho imbecil —fora o mesmo do que a ver tombar morta a meus pés. Ela não deixara de serum amor — é claro — mas eu é que nunca mais a poderia sequer aproximar.Sujara-a para sempre o homenzinho loiro, engordurara-a. E se eu a beijasse,logo me ocorreria a sua lembrança amanteigada, vir-me-ia um gosto húmido asaliva, a coisas peganhentas e viscosas. Possuí-la, então, seria o mesmo quebanhar-me num mar sujo, de espumas amarelas, onde boiassem palhas,pedaços de cortiça e cascas de melões…Pois bem: e se as minhas repugnâncias em face do corpo admirável de Martativessem a mesma origem? Se esse amante que eu ignorava fosse alguém queme inspirasse um grande nojo?… Podia muito bem ser assim, numpressentimento, tanto mais que — já o confessei —, ao possuí-la, eu tinha asensação monstruosa de possuir também o corpo masculino desse amante.Mas a verdade é que, no fundo, eu estava quase certo de que me enganavaainda; de que era homem bem diferente, bem mais complicada a razão dasminhas repugnâncias misteriosas. Ou melhor: que mesmo que eu, se o

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