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A CONFISSÃO DE LÚCIO

Untitled - Luso Livros

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* * *Nunca tive que me queixar dos guardas, como alguns dos meus companheirosque, em voz baixa, me contavam os maus tratos de que eram vítimas.E o certo é que, às vezes, se ouviam de súbito, ao longe, uns gritos estranhos— ora roucos, ora estridentes. E um dia um prisioneiro mulato — decerto ummistificador — disse-me que o tinham vergastado sem dó nem piedade comumas vergastas horríveis — frias como água gelada, acrescentara na sua línguade trapos…Aliás, eu com raros dos outros prisioneiros me misturava. Eram — via-se bem— criaturas pouco recomendáveis, sem ilustração nem cultura, vindas porcerto dos bas-fonds do vício e do crime.Apenas me aprazia durante as horas de passeio na grande cerca, falando comum rapaz louro, muito distinto, alto e elançado. Confessou-me que expiavaigualmente um crime de assassínio. Matara a sua amante: uma cantorafrancesa, célebre, que trouxera para Lisboa.Para ele como para mim, também a vida parara — ele vivera também omomento culminante a que aludi na minha advertência. Falávamos por sinalmuita vez desses instantes grandiosos, e ele então referia-se à possibilidade defixar, de guardar, as horas mais belas da nossa vida — fulvas de amor ou de

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