A CONFISSÃO DE LÚCIO

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O meu amigo — ainda que preso de uma grande excitação — abriu a carta,leu-a rapidamente, e logo a amarfanhou arremessando-a para o sobrado…Depois, torceu-me o braço com maior violência.Em redor de mim tudo oscilou… Sentia-me disperso de alma e corpo entre orodopio que me silvava… tinha receio de haver caído nas mãos de umlouco…E numa voz ainda mais velada, mais singular, mais falsa — isto é: melhor doque nunca parecendo vir doutra garganta —, Ricardo gritava-me num delírio:— Vamos ver! Vamos ver!… Chegou a hora de dissipar os fantasmas…Ela é só tua! e só tua… hás de me acreditar!… Repito-te: Foi como se a minhaalma, sendo sexualizada, se materializasse para te possuir… Ela é só minha! Ésó minha! Só para ti a procurei… Mas não consinto que nos separe…Verás… Verás!…E no meio destas frases incoerentes, impossíveis, arrastava-me correndo numafúria para os aposentos da sua esposa, que ficavam no segundo andar.(Pormenor curioso: nesse momento eu não tinha a sensação de que eramimpossíveis as palavras que ele me dizia; apenas as julgava cheias da maiorangústia…)Tínhamos chegado. Ricardo empurrou a porta brutalmente…Em pé, ao fundo da casa, diante de uma janela, Marta folheava um livro…
A desventurada mal teve tempo para se voltar… Ricardo puxou de umrevólver que trazia escondido no bolso do casaco e, antes que eu pudesseesboçar um gesto, fazer um movimento, desfechou-lho à queima-roupa…Marta tombou inanimada no solo… Eu não arredara pé do limiar…E então foi o mistério… o fantástico mistério da minha vida…Ó assombro! ó quebranto! Quem jazia estiraçado junto da janela, não eraMarta — não! —, era o meu amigo, era Ricardo… E aos meus pés — sim,aos meus pés! — caíra o seu revólver ainda fumegante!…Marta, essa desaparecera, evolara-se em silêncio, como se extingue umachama…Aterrado, soltei um grande grito — um grito estridente, despedaçador — e,possesso de medo, de olhos fora das órbitas e cabelos erguidos, precipitei-menuma carreira louca… por entre corredores e salões… por escadarias…Mas os criados acudiram.* * *… Quando pude raciocinar, juntar duas ideias, em suma: quando desperteideste pesadelo alucinante, infernal, que fora só a realidade, a realidade
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A CONFISSÃO DE LÚCIOMÁRIO DE SÁ
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A António Ponce de Leão
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PREFÁCIOCumpridos dez anos de pris
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Mas ponhamos termos aos devaneios.
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memória pelos seus traços fision
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que ela mandou deitar abaixo — is
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Gervásio seguramente não lera, ma
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todas. Porém, até hoje, raros a c
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* * *Na Porta Maillot, tomamos o tr
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simpatizava — logo lhe atribuía
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apoteoses, uns bailados ou o quer q
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Descemos.À entrada, como no teatro
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crespos — e um chinês, um índio
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vibratilidade, dimanando-nos, aturd
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descobertos —, os corpos se lhes
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ouro pálido, doentio. E toda ela s
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Falamos largamente acerca das extra
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já expus alguma vez… Só compree
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— Ah! sim, talvez não compreende
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Respondi divagando, e o poeta acres
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são todas iguais, sempre — vesti
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estonteada…Mais tarde, relembrand
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— Paris! Paris! — exclamava o p
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— É isto só: — disse — não
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Pelo caminho, ao atravessarmos não
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Mas como o seu aspeto físico mudar
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Mal cheguei ao meu quarto, deitei-m
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Os serões corriam lisonjeiros entr
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Por sua parte, Ricardo só me parec
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Sim, em verdade, tudo aquilo era mu
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* * *Contudo o mais singular da min
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— Nunca vibrei sensações mais i
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E eis como principiou uma série de
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— Encantadores aqueles nossos ami
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invadira tudo, deixara-me ficar est
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O meu espírito adaptara-se ao mist
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Acompanhei Ricardo. Ao jantar falou
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Foi uma tarde triste, chuvosa e neg
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de orgulho.Porém, refletindo melho
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situações, já anteriormente me s
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