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A CONFISSÃO DE LÚCIO

Untitled - Luso Livros

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entusiasmo espasmódico, sou todo admiração, todo ternura, pelas grandesdebochadas que só emaranham os corpos de mármore com outros iguais aosseus — femininos também; arruivados, sumptuosos… E lembra-me então umdesejo perdido de ser mulher — ao menos, para isto: para que, numencantamento, pudesse olhar as minhas pernas nuas, muito brancas, aescoarem-se, frias, sob um lençol de linho…Entanto, eu admirava-me do rumo que a conversa tomara. Com efeito, se aobra de Ricardo de Loureiro era cheia de sensualismo, de loucas perversidades— nas suas conversas nada disso surgia. Pelo contrário. Às suas palavrasnunca se misturava uma nota sensual — ou simplesmente amorosa — edetinham-no logo súbitos pudores se, por acaso, de longe se referia a qualquerdetalhe dessa natureza.Quanto à vida sexual do meu amigo, ignorava-a por completo. Sob esse pontode vista, Ricardo afigurava-se-me, porém, uma criatura tranquila. Talvez meenganasse… Enganava-me com certeza. E a prova — ai, a prova! — tive-aessa noite pela mais estranha confissão — a mais perturbadora, a maisdensa…Eram sete e meia. Havíamos subido todos os Campos Elísios e a Avenida doBosque até à Porta Maillot. O artista decidiu que jantássemos no Pavilhão deArmenonville — ideia que eu aplaudi do melhor grado.

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