psicología social: perspectivas y aportaciones hacia un mundo posible

(Re)pensar a sobredotação. a necessária excelência no funcionamento?325O menino António não acaba as suas tarefas; a sua letra é má, fala com os outros e interrompeos;anda pela sala e mete-se com os colegas; mexe nos cadernos e lápis dos outros, parece que estásempre nas nuvens e sempre distraído. É enviado pelo professor para a consulta de psicologia a fimde atestar a sua hiperactividade que tanto perturba a aula. Curiosamente, o António não preencheos critérios de perturbação de hiperactividade e de défice de atenção, tal como são definidos pelodsm-iv-tr. Os seus interesses acentuados e aprofundados em certas áreas do saber, a sua capacidadede concentração, nos assuntos que em si despertam interesse, a complexidade de trabalhos que écapaz de levar a cabo e o desinteresse de que se revestem os conteúdos curriculares parecem indiciarcaracterísticas de sobredotação, às quais a escola não parece conseguir dar resposta atempada.O seu comportamento problemático não se aplica à maioria das situações, mas apenas se evidenciacom um ou outro professor, em que a desmotivação perante tarefas pouco estimulantes pareceoriginar comportamentos disruptivos (Webb & Latimer, 1993).O menino Tiago torna-se extremamente cansativo, está sempre a argumentar, discute com osadultos e com os colegas, tem que ter sempre a última palavra, questiona as regras, desafia as ordense recusa-se a cumprir alguns dos pedidos. Podemos mesmo afirmar que é teimoso! suspeita-sede perturbação de oposição, razão pela qual é enviado para a consulta de psicologia. A avaliaçãoe diagnóstico psicológicos revelam uma sobredotação intelectual, em que a capacidade de argumentação,a reflexão, o raciocínio lógico, são bem evidentes. Torna-se mais difícil impor unilateralmente,por parte dos pais ou educadores, regras sem previamente serem analisadas e discutidas.De facto, os sujeitos com características de sobredotação podem ter dificuldade em aderir às regras,pois a sua habilidade em analisá-las, questioná-las e não aceitá-las passivamente, coloca muitasvezes em xeque as ordens de pais e professores (Barkley, 1990, cit. por Webb & Latimer, 1993).O menino João preocupava-se bastante com algumas das questões que fazem parte do mundoadulto: a guerra, a fome, o aborto... Era frequente encontrá-lo a chorar à noite no seu quarto. Oseu sentimento de impotência era enorme! Tantas preocupações sociais, mas nem por isso as suasinteracções com os pares se mostravam gratificantes. Pelo contrário, era raro ser visto a brincar comalguém, pois preferia a leitura solitária na biblioteca. Para além disso, o menino João estava permanentementeconstipado, com otites, de causa alérgica pela certa, apesar dos testes de alergias nãoserem conclusivos! Deita-se muito tarde e acorda cedo... não dorme o suficiente. O menino Joãonão tomava os antibióticos. A introdução dos alimentos foi difícil e hoje em dia come bem, masrecusa-se a comer o que não gosta! Quando vai a casa dos amigos é capaz de adivinhar o que foio jantar de há 3 dias... só pelo cheiro! Os pais, com receio de algum tipo de depressão e de reaçãoà mudança de escola que se avizinha, decidem consultar um psicólogo.Os resultados revelaram características de sobredotação intelectual.Como refere Csikszentmihalyi (1997), a maioria dos sujeitos com características de sobredotaçãoestá cerca de cinco vezes mais tempo sozinha do que os outros, pois para além da falta de afinidadescom os pares, torna-se imperioso estar só para poder desenvolver algo que é do seu maisabsoluto interesse. O nível de desenvolvimento moral e consequentes preocupações de ordemexistencial são mais elevados. A esta sensibilidade emocional acresce, muitas vezes uma sensibilidadetáctil, olfactiva, auditiva ou até mesmo gustativa. A necessidade de dormir menos horas pareceigualmente um facto adquirido (Winner, 1996). As alergias estão também mais presentes a níveldas crianças com características de sobredotação, pois de acordo com o modelo de Geschwind e