VOL 2 – Arquitetura nas Fazendas do Sul de Minas ... - Monumenta
VOL 2 – Arquitetura nas Fazendas do Sul de Minas ... - Monumenta
VOL 2 – Arquitetura nas Fazendas do Sul de Minas ... - Monumenta
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
100<br />
para <strong>de</strong>signar uma capela <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> casa. Porém, por metonímia, <strong>de</strong>corrente <strong>do</strong> oratório usa<strong>do</strong> em seu<br />
interior, <strong>do</strong> tipo ermida, o termo é usa<strong>do</strong> na região para <strong>de</strong>signar esse cômo<strong>do</strong> no interior da casa.<br />
Usuais <strong>nas</strong> Casas Gran<strong>de</strong>s <strong>do</strong> Nor<strong>de</strong>ste e <strong>nas</strong> fazendas mineiras, as Ermidas <strong>–</strong> peque<strong>nas</strong> capelas <strong>do</strong>mésticas que<br />
podiam ou não estar <strong>de</strong>ntro da residência <strong>–</strong> precisavam da autorização lenta e burocrática das autorida<strong>de</strong>s eclesiásticas<br />
para serem consagradas. Como alternativa, surgiram os gran<strong>de</strong>s oratórios, que cumpriam a função <strong>do</strong>méstica e pública<br />
da Capela, especialmente <strong>nas</strong> proprieda<strong>de</strong>s rurais que, por estarem longe das vilas, necessitavam <strong>de</strong> um local próprio<br />
para o cumprimento <strong>do</strong>s ofícios católicos. Algumas famílias abastadas reservavam um cômo<strong>do</strong> especial, chama<strong>do</strong><br />
“quarto <strong>de</strong> santos”, para as práticas religiosas. O gran<strong>de</strong> oratório passou, então, a cumprir o papel <strong>de</strong> retábulo, não<br />
ape<strong>nas</strong> abrigan<strong>do</strong> os santos <strong>de</strong> <strong>de</strong>voção, mas também sen<strong>do</strong> utiliza<strong>do</strong> para a realização <strong>de</strong> batiza<strong>do</strong>s, casamentos, missas<br />
em intenção <strong>de</strong> almas, nove<strong>nas</strong> e rezas coletivas. Essas celebrações eram realizadas com a presença <strong>de</strong> párocos <strong>de</strong> vilas<br />
próximas, que aproveitavam as visitas rurais para cumprirem outras obrigações evangélicas 3 .<br />
Essa peça sempre é situada próxima à entrada, para que pessoas estranhas possam assistir à missa<br />
sem entrar na intimida<strong>de</strong> da casa. Alguns membros da família po<strong>de</strong>riam assistir à missa separadamente<br />
das <strong>de</strong>mais pessoas da fazenda e, por isso, há em muitas casas uma janela ligan<strong>do</strong> a ermida à parte<br />
íntima, como se observa <strong>nas</strong> fazendas Santa Clara (p. 306), da Anta (p. 200), <strong>do</strong> Mato (p. 228) e<br />
Angahy (p. 134). Naquele tempo, os padres iam até as fazendas para rezar a missa e <strong>de</strong>sempenhar as<br />
<strong>de</strong>mais funções religiosas, pois as cida<strong>de</strong>s eram distantes. É comum encontrar <strong>nas</strong> casas das fazendas<br />
pias batismais, como a pia <strong>de</strong> pedra-sabão da fazenda <strong>do</strong> Mato, ou instrumentos para celebração <strong>de</strong><br />
missa, como <strong>nas</strong> fazendas Santa Maria (p. 232) e Angahy (p. 134). Em algumas fazendas, não há um<br />
cômo<strong>do</strong> exclusivamente <strong>de</strong>dica<strong>do</strong> à função religiosa, mas nesses casos há sempre oratórios <strong>–</strong> que po<strong>de</strong>m<br />
ser móveis ou embuti<strong>do</strong>s em nichos e armários <strong>–</strong>, retábulos, altares, imagens <strong>nas</strong> pare<strong>de</strong>s, santos e<br />
outros elementos <strong>de</strong> <strong>de</strong>voção.<br />
Sain<strong>do</strong> <strong>do</strong> setor social e atravessan<strong>do</strong> um corre<strong>do</strong>r ou cômo<strong>do</strong> <strong>de</strong> passagem, chega-se à segunda gran<strong>de</strong><br />
peça da casa, invariavelmente maior que a primeira, a sala <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro ou sala da família. É essa sala que faz<br />
sempre a ligação com o setor <strong>de</strong> serviços: nos casos da forma <strong>de</strong> L, na junção <strong>do</strong>s retângulos; nos casos <strong>de</strong><br />
retângulos únicos, através <strong>de</strong> corre<strong>do</strong>r. Essa sala é a vida da casa, por ela tu<strong>do</strong> passa e é <strong>de</strong>la que a matriarca<br />
po<strong>de</strong> controlar o movimento da família, agrega<strong>do</strong>s e emprega<strong>do</strong>s. Hoje em dia, é usada como sala <strong>de</strong> jantar<br />
e, assim, leva também esse nome. Tal <strong>de</strong>signação, porém, mascara a diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> funções e a importância<br />
que esse cômo<strong>do</strong> teve no passa<strong>do</strong>. Po<strong>de</strong>mos consi<strong>de</strong>rá-lo o mais importante da constituição da casa e, por<br />
isso, é mais apropria<strong>do</strong> chamá-lo <strong>de</strong> sala da família.<br />
As alcovas localizam-se, geralmente, no centro <strong>do</strong> retângulo principal, entre a sala nobre e a sala da<br />
família. São pequenos quartos sem janelas que po<strong>de</strong>m se abrir para a sala da frente ou para a sala da<br />
família. Entretanto, há casas, como a da fazenda Santa Clara (p. 306), em que a alcova encontra-se<br />
pegada a uma pare<strong>de</strong> externa, ou seja, po<strong>de</strong>ria tecnicamente possuir janela, mas não a possui. Isso mostra