VOL 2 – Arquitetura nas Fazendas do Sul de Minas ... - Monumenta
VOL 2 – Arquitetura nas Fazendas do Sul de Minas ... - Monumenta
VOL 2 – Arquitetura nas Fazendas do Sul de Minas ... - Monumenta
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
62<br />
Figura 9 - Pátio cerca<strong>do</strong> por muros <strong>de</strong><br />
a<strong>do</strong>be na F. Traituba. Foto: CFC.<br />
Figura 10 - Senzala da F. Pitangueiras I.<br />
Foto: CFC.<br />
Figura 11 - Senzala da F. Bela Cruz.<br />
Foto: CFC.<br />
Isso era compreensível, pois toda a população da fazenda havia <strong>de</strong> comer, e o<br />
grosso <strong>do</strong>s alimentos era beneficia<strong>do</strong> em construções polivalentes, servin<strong>do</strong> a to<strong>do</strong>s.<br />
A gordura, por exemplo, era obtida <strong>do</strong> <strong>de</strong>rretimento <strong>do</strong> toicinho <strong>do</strong>s capa<strong>do</strong>s, da<br />
banha das leitoas sacrificadas em dias <strong>de</strong> festa, em fogo baixo, lentamente, em<br />
gran<strong>de</strong>s panelões. Na Fazenda Boa Vista, em Bananal, havia mesmo uma<br />
“cozinha <strong>de</strong> Capa<strong>do</strong>s”. O sabão <strong>de</strong> cinzas era feito em outros fogões separa<strong>do</strong>s.<br />
O angu <strong>de</strong> fubá, a paçoca <strong>de</strong> carne <strong>de</strong> sol e <strong>de</strong> farinha <strong>de</strong> mandioca, o feijão<br />
cozi<strong>do</strong> com tranqueiras ou o charque vin<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio Gran<strong>de</strong> praticamente<br />
constituíam a comida <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s, e não só <strong>do</strong>s escravos <strong>do</strong> eito3 .<br />
Poucas fazendas conservam ainda hoje o edifício da senzala. São<br />
construções estreitas e compridas, <strong>de</strong> um único pavimento, assentadas ao rés<br />
<strong>do</strong> chão <strong>–</strong> geralmente com piso <strong>de</strong> terra batida <strong>–</strong>, com aberturas ape<strong>nas</strong> para<br />
um la<strong>do</strong>. Não se sabe ao certo se a forma das senzalas foi assim <strong>de</strong>finida em<br />
atendimento à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> controle <strong>do</strong>s escravos, ou se sofreu a influência<br />
<strong>de</strong> algum padrão tradicional <strong>de</strong> habitação <strong>do</strong>s negros na África, como analisou<br />
Carneiro da Cunha (1985) no livro Da senzala ao sobra<strong>do</strong>.<br />
Nas fazendas que ainda conservam o edifício das senzalas, observam-se<br />
algumas formas preferenciais <strong>de</strong> implantação: as construções po<strong>de</strong>m estar<br />
localizadas na lateral <strong>de</strong> um pátio, como é o caso das fazendas Monjolo (p.<br />
187), Pitangueiras <strong>de</strong> São Vicente <strong>de</strong> Mi<strong>nas</strong> (p. 156) e Conceição (p.315),<br />
alinhadas com a casa, em continuação ao corpo <strong>de</strong> serviços, como <strong>nas</strong> fazendas<br />
Bela Cruz (p.143) e Amarela (p. 272) ou, ainda, perpendiculares à casa, como<br />
na fazenda São José <strong>de</strong>Vargem. As senzalas em quadra, cercan<strong>do</strong> por inteiro um<br />
pátio ou terreiro, como <strong>nas</strong> gran<strong>de</strong>s fazendas <strong>de</strong> café <strong>do</strong> Vale <strong>do</strong> Paraíba, não<br />
são comuns no <strong>Sul</strong> <strong>de</strong> Mi<strong>nas</strong>. A fazenda Traituba (p. 137) é cercada por muros<br />
<strong>de</strong> a<strong>do</strong>be, configuran<strong>do</strong> pátios que serviam <strong>de</strong> local <strong>de</strong> pouso para tropeiros.<br />
Esses pátios, em sua parte inferior, são ro<strong>de</strong>a<strong>do</strong>s por pavilhões térreos que<br />
po<strong>de</strong>riam ter si<strong>do</strong> as senzalas. Se confirmada tal hipótese, esta seria a única<br />
ocorrência <strong>de</strong> senzalas em quadra no conjunto das fazendas pesquisadas.<br />
Nas <strong>de</strong>mais fazendas não foram encontra<strong>do</strong>s vestígios <strong>de</strong> senzala; todas,<br />
porém, utilizaram o trabalho <strong>de</strong> escravos. On<strong>de</strong> eles eram abriga<strong>do</strong>s, afinal? A<br />
maioria <strong>do</strong>s relatos orais <strong>de</strong> atuais proprietários revela que o alojamento <strong>do</strong>s<br />
escravos era no porão das casas. “Aqui servia para guardar os escravos”, conta<br />
o mora<strong>do</strong>r. Essa versão, apesar <strong>de</strong> repetida em numerosos relatos, só parece