14.04.2013 Views

VOL 2 – Arquitetura nas Fazendas do Sul de Minas ... - Monumenta

VOL 2 – Arquitetura nas Fazendas do Sul de Minas ... - Monumenta

VOL 2 – Arquitetura nas Fazendas do Sul de Minas ... - Monumenta

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

104<br />

Sem dúvida, neste particular também se observa o “amolecimento” nota<strong>do</strong> por Gilberto Freyre, per<strong>de</strong>n<strong>do</strong>-se, nos<br />

compromissos <strong>de</strong> adaptação ao meio, um pouco daquela “carrure” tipicamente portuguesa; mas, em compensação,<br />

<strong>de</strong>vi<strong>do</strong> aos costumes mais simples e à largueza maior da vida colonial, e por influência também, talvez, da própria<br />

grandiosida<strong>de</strong> <strong>do</strong> cenário americano, certos maneirismos preciosos e um tanto arrebita<strong>do</strong>s que lá se encontram,<br />

jamais se viram aqui 6 .<br />

Aponta-se, portanto, um caminho, um percurso da casa medieval até as fazendas, passan<strong>do</strong> pelas cida<strong>de</strong>s<br />

<strong>do</strong> ciclo <strong>do</strong> ouro. Analisan<strong>do</strong> as plantas <strong>de</strong>ssas três etapas, é possível vislumbrar um esquema evolutivo. Na<br />

casa medieval, há basicamente <strong>do</strong>is espaços maiores <strong>–</strong> frente e fun<strong>do</strong>s <strong>–</strong> liga<strong>do</strong>s por um corre<strong>do</strong>r, ao longo<br />

<strong>do</strong> qual estão dispostas as escadas e os cômo<strong>do</strong>s menores, sem aberturas. Esse mo<strong>de</strong>lo atingia <strong>do</strong>is, três ou<br />

até mais pavimentos. A cozinha situava-se no último, sain<strong>do</strong> assim a fumaça pela telha-vã. Esse esquema<br />

repete-se no Brasil com algumas adaptações: o lote fica mais largo, a altura se fixa em <strong>do</strong>is pavimentos e a<br />

cozinha ganha um corpo separa<strong>do</strong>, prolongan<strong>do</strong>-se para o quintal.<br />

Consolidan<strong>do</strong>-se as povoações, começaram os trabalhos <strong>de</strong> melhoria, […] as casas mais antigas, <strong>de</strong> um só<br />

pavimento, foram ampliadas crescen<strong>do</strong> em altura com o uso <strong>de</strong> técnicas mais leves7 .<br />

As salas da frente (primeiro pavimento) e as lojas (rés <strong>do</strong> chão) aproveitam as aberturas sobre a rua, fican<strong>do</strong> as<br />

aberturas <strong>do</strong>s fun<strong>do</strong>s para a iluminação <strong>do</strong>s cômo<strong>do</strong>s <strong>de</strong> permanência das mulheres e locais <strong>de</strong> trabalho. Entre<br />

essas partes […] situavam-se as alcovas <strong>de</strong>stinadas à permanência noturna […]. A circulação realizava-se,<br />

sobretu<strong>do</strong>, em um corre<strong>do</strong>r longitudinal que, em geral, conduzia da porta da rua aos fun<strong>do</strong>s. Esse corre<strong>do</strong>r<br />

apoiava-se em uma das pare<strong>de</strong>s laterais ou fixava-se no centro da planta nos exemplos maiores. […] Os planos<br />

maiores correspondiam, quase sempre, ape<strong>nas</strong> a um rebatimento simples <strong>de</strong> planta8 .<br />

Nota-se que esses esquemas são basea<strong>do</strong>s num mesmo sistema estrutural <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira, que consistia em<br />

apoiar troncos mais ou menos aparelha<strong>do</strong>s sobre muros <strong>de</strong> pedra, nos limites laterais <strong>do</strong> terreno. Esses<br />

troncos venciam vãos <strong>de</strong> aproximadamente quatro metros, em cima <strong>do</strong>s quais se <strong>de</strong>senvolviam os pisos<br />

superiores. Quan<strong>do</strong> aparecem os mo<strong>de</strong>los maiores, estes são simplesmente um rebatimento espelha<strong>do</strong> da<br />

planta <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo simples.<br />

Quan<strong>do</strong> esse mo<strong>de</strong>lo rebati<strong>do</strong> é transposto para a zona rural, acaba sen<strong>do</strong> adapta<strong>do</strong> para essa nova<br />

espacialida<strong>de</strong>. A casa, na nova situação rural, sofre algumas mudanças.<br />

Em primeiro lugar, acentua-se a forma <strong>de</strong> L já esboçada com o aparecimento <strong>do</strong> corpo da cozinha. Essa<br />

forma adapta-se melhor a um contexto rural, geran<strong>do</strong> basicamente <strong>do</strong>is espaços, frente (convexo) e fun<strong>do</strong>s<br />

(côncavo), insinuan<strong>do</strong> pátios internos. Aparecem mais duas fachadas que, antes, eram os limites laterais <strong>do</strong><br />

terreno. Com isso, a casa ganha quartos laterais e as alcovas permanecem no centro. Estruturalmente, a<br />

armação <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira, vinda da tradição medieval, tem <strong>de</strong> se sustentar sem apoiar-se em outras casas.<br />

Desenvolve-se aí um sistema estrutural basea<strong>do</strong> na estrutura autônoma <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira, em princípio fincada no<br />

chão com os esteios e, posteriormente, resolvida com a “gaiola” <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!