VOL 2 – Arquitetura nas Fazendas do Sul de Minas ... - Monumenta
VOL 2 – Arquitetura nas Fazendas do Sul de Minas ... - Monumenta
VOL 2 – Arquitetura nas Fazendas do Sul de Minas ... - Monumenta
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Retalhou-se o solo pelo sistema <strong>de</strong> sesmarias, concessões que só se podiam obter <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> muitas formalida<strong>de</strong>s e a propósito<br />
das quais era necessário pagar o título expedi<strong>do</strong>. O rico, conhece<strong>do</strong>r <strong>do</strong> andamento <strong>do</strong>s negócios, tinha protetores e podia<br />
fazer bons favores; pedia-as para cada membro <strong>de</strong> sua família e assim alcançava imensa extensão <strong>de</strong> terras11 .<br />
Foi fazen<strong>do</strong> concessões <strong>de</strong> sesmarias que o Esta<strong>do</strong>, após 1808, incentivou a criação <strong>de</strong> caminhos e a<br />
ocupação <strong>de</strong> terras ao longo <strong>de</strong>sses caminhos e rotas, principalmente entre a capital e a região das mi<strong>nas</strong>,<br />
com o objetivo <strong>de</strong> estimular a produção e facilitar o abastecimento.<br />
Sabemos que, no primeiro momento após a <strong>de</strong>scoberta <strong>do</strong> ouro, houve gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>manda por alimentos,<br />
gerada pelo abrupto aumento da população. As áreas paulistas, já estabelecidas, tornaram-se abastece<strong>do</strong>ras<br />
<strong>de</strong> gêneros alimentícios para a população das mi<strong>nas</strong>. Aos poucos, foram sen<strong>do</strong> criadas fazendas <strong>nas</strong> regiões<br />
das mi<strong>nas</strong> e ao longo <strong>do</strong>s caminhos. Essas proprieda<strong>de</strong>s tornaram-se novas abastece<strong>do</strong>ras da população<br />
mineira. Muitas vezes os proprietários preferiam <strong>de</strong>dicar-se à ativida<strong>de</strong> agrícola, que era certa e também<br />
lucrativa, a arriscar-se <strong>nas</strong> mi<strong>nas</strong>, ativida<strong>de</strong> incerta e em <strong>de</strong>cadência. As terras da comarca <strong>do</strong> Rio das<br />
Mortes, famosas por sua qualida<strong>de</strong>, atraíram esses proprietários. No Mapa da Regionalização (figura 10),<br />
foram chamadas <strong>de</strong> “Campos <strong>do</strong> <strong>Sul</strong>”.<br />
O ga<strong>do</strong> <strong>do</strong>s arre<strong>do</strong>res <strong>do</strong> Rio Gran<strong>de</strong> tem justificada fama, graças ao tamanho e força. Alimentadas em ótimos pastos,<br />
as vacas dão leite quase tão rico em nata quanto o das nossas montanhas. Com ele se faz gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
queijos exporta<strong>do</strong>s para o Rio <strong>de</strong> Janeiro12 .<br />
Inicia-se, assim, a efetiva ocupação <strong>do</strong> <strong>Sul</strong> <strong>de</strong> Mi<strong>nas</strong>, agora não mais com ranchos efêmeros, mas com<br />
fazendas <strong>de</strong>dicadas ao abastecimento, algumas <strong>de</strong>las existentes até hoje. Note-se que as ativida<strong>de</strong>s agropecuárias<br />
e mineratórias não eram antagônicas; ao contrário, complementavam-se e coexistiram num mesmo perío<strong>do</strong>.<br />
De acor<strong>do</strong> com uma visão corrente, a ocupação rural em Mi<strong>nas</strong> estaria ligada à <strong>de</strong>cadência, à ruralização.<br />
Antigos minera<strong>do</strong>res e negociantes se transformam em fazen<strong>de</strong>iros; artesãos e emprega<strong>do</strong>s se fazem posseiros <strong>de</strong><br />
terras <strong>de</strong>volutas. Citadinos ruraliza<strong>do</strong>s espalham-se pelos matos, selecionan<strong>do</strong> a terra já não pela riqueza aurífera,<br />
mas por suas qualida<strong>de</strong>s para moradia e cultivo. […] muitas parentelas antes ricas, mas <strong>de</strong> bens minguantes,<br />
emigraram com sua escravaria para sesmarias conseguidas em territórios ermos. Aí reconstituem núcleos <strong>de</strong> vida<br />
autárquica, novamente orgulhosos <strong>de</strong> só <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rem <strong>do</strong> comércio para o provimento <strong>do</strong> sal, mal escon<strong>de</strong>n<strong>do</strong>, atrás<br />
<strong>de</strong>ssa vaida<strong>de</strong>, a sua penúria13 .<br />
S e rt ã o e t e r r i t ó r i o<br />
Ora, somente se ruraliza aquele que é da cida<strong>de</strong>: a nova população rural seria assim a população urbana<br />
em <strong>de</strong>cadência. Ao contrário, sabemos hoje que a ativida<strong>de</strong> rural se expan<strong>de</strong> à medida que a <strong>de</strong>manda por<br />
alimentos aumenta, e foi exatamente o que promoveu uma maior ocupação das terras <strong>do</strong> <strong>Sul</strong> <strong>de</strong> Mi<strong>nas</strong>. A<br />
população da região não era formada ape<strong>nas</strong> por citadinos ruraliza<strong>do</strong>s, mas também por portugueses que<br />
chegavam em ondas <strong>de</strong> migração constantes. Essas ondas eram absorvidas pela população local e em muitos<br />
casos pela classe proprietária <strong>–</strong> inicialmente, porque abasteciam a população urbana da própria capitania,<br />
27