Ensaio sobre o Sacrifício - WESLEY CARVALHO
Ensaio sobre o Sacrifício - WESLEY CARVALHO
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sua natureza quase divina e portanto não tinha necessidade de<br />
uma consagração especial, salvo em circunstâncias extraor<br />
dinárias,96 quando havia uma preparação prévia. Esta apenas<br />
difere da que descrevemos a propósito do leigo por ser geral<br />
mente menos complexa. Como o sacerdote está naturalmente<br />
mais próximo do mundo sagrado, operações mais simples são<br />
suficientes para fazê-Io entrar ali por inteiro.<br />
Entre os hebreus, o sacerdote, embora fosse ordenado, pre<br />
cisava tomar algumas precauções suplementares para poder<br />
sacrificar. Devia lavar-se antes de entrar no santuário97 e abs<br />
ter-se de vinho e bebidas fermentadas antes da cerimônia.98<br />
Vestia roupas de linh099 que retirava logo após o sacrifício10o<br />
depositando-as num lugar consagrado, pois elas já eram por<br />
si mesmas uma coisa sagrada e temível, cujo contato era pe<br />
rigoso para os profanos. 101Não obstante seu convívio habitual<br />
com o divino, o próprio sacerdote estava sempre ameaçado de<br />
morte <strong>sobre</strong>natural,102 como a que abateu os dois filhos de Aarão,103os<br />
de Eli104ou os sacerdotes da família de Baithos. 105Ao<br />
aumentar sua santidade pessoal, 106ele facilitava sua abordagem<br />
do santuário e munia-se de salvaguardas.<br />
Mas ele não se santificava apenas para si mesmo: santifica<br />
va-se também para a pessoa ou sociedade em nome da qual agia.<br />
Devia tomar tanto mais precauções por expor, a um só tempo<br />
a si mesmo e a aqueles que substituía. Isso era particularmente<br />
acentuado na festa do Grande Perdão. 107Nesse dia, com efeito,<br />
o sumo sacerdote representa o povo de Israel. Ele pede per<br />
dão ao mesmo tempo para si e para Israel: para si e sua família<br />
com o novilho, para Israel com os dois bodes. 108É depois dessa<br />
expiação que ele, fazendo defumar o incenso, transpõe o véu<br />
do santuário e encontra Deus na nuvem. 109Funções assim tão<br />
graves requeriam preparações muito especiais, relacionadas<br />
ao papel quase divino que o sacerdote cumpria. Guardadas as<br />
proporções, esses ritos se assemelham aos da dlksâ de que fa<br />
lávamos há pouco. Sete dias antes da festa o sumo sacerdote se<br />
isola de sua família, 110permanecendo na cela dos paredri (assessores).!I!<br />
Como o sacrificante hindu, ele é objeto de toda sorte<br />
de cuidados. Na véspera, é cercado de anciãos que lhe lêem a<br />
seção da Bíblia em que é exposto o ritual do Kipur. Dão-lhe<br />
um pouco de comer e conduzem-no a uma câmara especial,!12<br />
onde o deixam após tê-Io feito jurar em nada modificar os ritos.<br />
"Depois se separavam, ele e eles, chorando". I I] A noite toda ele<br />
deve velar, 114pois o sono é um momento durante o qual mácu<br />
Ias involuntárias podem ser contraídas. 115Assim, todo o ritual<br />
pontifício tende para um só fim: imbuir o sumo sacerdote de<br />
uma santificação extraordinária, I16que lhe permita abordar o<br />
deus ante o propiciatório e carregar o fardo dos pecados que<br />
serão acumulados <strong>sobre</strong> sua cabeça.<br />
3) O lugar, os instrumentos. Não basta que o sacrificante e o sacer<br />
dote sejam santificados para que o sacrifício propriamente dito<br />
possa começar. Este não pode se realizar em qualquer momento,<br />
lugar ou circunstância. Assim, nem todos os momentos do<br />
dia ou do ano são igualmente propícios aos sacrifícios, e há<br />
mesmo alguns que os excluem. Na AssÍria, por exemplo, eles<br />
eram interditos nos dias 7, 14 e 2 I .117A hora da celebração di<br />
feria conforme a natureza e o objeto da cerimônia. Às vezes o<br />
sacrifício devia ser oferecido de dia118e às vezes ao entardecer<br />
e à noite. 119<br />
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