Ensaio sobre o Sacrifício - WESLEY CARVALHO
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374 Allen (1897: 239, 265-66, 340-SS) defendeu idéias <strong>sobre</strong> esses sa<br />
crifícios e os sacrifícios do deus que talvez parecerão relativamente<br />
análogas às nossas. Esperamos, porém, que se percebam diferenças<br />
fundamentais.<br />
375 É um dos ritos cujo estudo comparado é dos mais avançados. Ver<br />
Gaidoz 1882; Winternitz 1888; e <strong>sobre</strong>tudo a exaustiva monografia<br />
de Sartori (I 898), com a classificação das formas e onde somente a<br />
análise do rito deixa realmente a desejar. Sobre a conservação dos<br />
corpos ou partes de corpos das vítimas nas construções, ver Wilken<br />
1889: 31;Pinza 1898.<br />
376 É o caso mais geral. Trata-se realmente da criação de uma espécie de<br />
deus ao qual mais tarde se prestará um culto. Há aí um caso paralelo<br />
ao do sacrifício agrário. Esse espírito será vago ou preciso, confundir<br />
se-á com a força que torna s6lida a construção ou será uma espécie<br />
de deus pessoal, ou ainda as duas coisas ao mesmo tempo. Mas ele<br />
sempre estará ligado por certos vínculos à vítima da qual provém e<br />
à construção da qual é o guardião e o protetor contra feitiços, doen<br />
ças e infortúnios, inspirando a todos, tanto aos ladrões quanto aos<br />
habitantes, o respeito do limiar (Trumbull 1896). Assim como se<br />
fixa a vítima agrária semeando seus restos etc., derrama-se o sangue<br />
<strong>sobre</strong> as fundações e mais tarde se empareda a cabeça. O sacrifício de<br />
construção pôde se repetir em diversos rituais; primeiro em ocasiões<br />
graves (conserto de uma construção, cerco de uma cidade) e depois<br />
de maneira peri6dica, confundindo-se em muitos casos com os sacri<br />
fícios agrários, dando origem, como eles, a personalidades míticas<br />
(Dümmler 1897: 19-5S).<br />
377 O caso é igualmente bastante geral. Trata-se de redimir por uma ví<br />
tima a c61era do espírito proprietário, seja do solo, seja, em alguns<br />
casos, da pr6pria construção. Os dois ritos se acham reunidos na<br />
índia (Winternitz 1888) no sacrifício aVastospati, "Rudra, senhor do<br />
lugar", mas em geral são isolados (Sartori 1898: 14- I 5, 19, 42-SS).<br />
378 Ver Winternitz 1888.<br />
379 O caso mais conhecido é o da filha de Jefté. Mas ap6s o cumprimento<br />
de um sacrifício voluntário sempre há o sentimento de ter-se deso-<br />
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nerado, de ter "arremessado o voto", como dizem energicamente os<br />
te610gos hindus.<br />
Na índia védica, "Isto ao deus, não a mim" era a f6rmula geral da<br />
atribuição pronunciada pelo sacrificante quando o oficiante lançava<br />
ao fogo uma parte qualquer.<br />
São os sacrifícios bíblicos "de graça", de louvor. Eles parecem ter sido<br />
muito pouco numerosos na maioria das religiões (quanto à Índia, ver<br />
Oldenberg I 894a: 3°5-06; Wilken 189 r: 365-ss).<br />
Callaway 1868: 59, n. 14; Frazer 1890, lI: 42; Marillier 1898: 209;<br />
Sahagun si d, lI: 20.<br />
Hillebrandt 1897: 75. Convém associar a esses fatos os casos de áfo<br />
gamentos de vítimas. Noutros casos esparge-se água <strong>sobre</strong> uma víti-<br />
ma qualquer (ex: II Reis, XVIII, I 9-SS;cf. Kramer 1898: 165; Smirnov<br />
1898: 175)·<br />
384 No ritual védico, quando se unge o animal no traseiro diz-se: "Que o<br />
mestre do sacrifício [o sacrificante] vá [contigo e] com sua vontade ao<br />
céu" (Ap. çr.sú. VII, 14, I; V.S. 6, 10,6; Taitt.S. 1,3,8, I, comentado em<br />
Taitt.S. 6, 3, 7, 4; Çat.Br. 3, 7, 4, 8, onde é explicado que o animal vai<br />
para o céu e leva no traseiro o voto do sacrificante). É muito comum<br />
a vítima ser representada por um mensageiro dos homens, como no<br />
México e entre os trácios descritos por Her6doto (IV, 9) etc. Nossa<br />
enumeração dos sacrifícios objetivos não é de modo algum completa;<br />
não abordamos o sacrifício divinat6rio, o de imprecação, o do ali<br />
mento, o do juramento etc. Um estudo dessas diversas formas talvez<br />
demonstraria que aí também se trata de criar e utilizar uma coisa<br />
sagrada, um espírito que se dirige para esta ou aquela coisa. Desse<br />
ponto de vista, será possível talvez chegar a uma classificação.<br />
385 Ver Mannhardt 1884: 68-ss; Smith 1889: 304-ss; Frazer 1890, lI: 38,<br />
41; Prott 1897: 187-ss, Stengel 1898~ 399-ss; Farnell 1896-19°9, I:<br />
56,58, 88-ss (ver nas Bouphonia um caso de culto totêmico); Frazer<br />
1898, lI: 203-ss; v: 509; Mommsen 1864: 512-ss; Gruppe [19°6],<br />
I: 29.<br />
386 Ver Pausânias, I, 24,4; 28, 10; Porfírio, De Abstinentia, lI, 9, 28-ss;<br />
Schol.Arist. Nub., 985; Hom. Schol.l1., 83.<br />
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