Ensaio sobre o Sacrifício - WESLEY CARVALHO
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10; XXVII, 18, 13; Deuteronâmio XXIV,9; Salmos LXXXIX,26; Tylor<br />
1876-78, lI: 3; Smith 1889: 423.<br />
181 Ap.çr.su. VII, 15, 10, I I. O mantra diz então (Taitt.S. 3, I, 4, 3) que<br />
o "sopro", a vida do sacrificante, está, como seu desejo, ligado ao<br />
destino do animal (3, 1,5, I). A escola doYajur-Veda branco não<br />
prescreve mantra (Kât.çr.su. VI, 5, 5) e ademais, diferença notável,<br />
não faz celebrar oferendas expiatorias nesse momento. Mas o rito<br />
de comunicação, bem como sua teoria, permanece o mesmo (Çat.<br />
Br. 3, 8, I, 10; Taitt. S. 6, 3, 8, I). OS brâmanes discutem: "É preciso<br />
tocar o animal, dizem uns; mas ele é levado à morte, esse animal; se o<br />
tocassem por trás, o yajamâna morreria subitamente". Outros dizem:<br />
"Ele é levado ao céu, esse animal; se ele [o sacrificante] não o tocasse<br />
por tras, ele estaria separado do céu. Por isso é preciso tocá-lo com<br />
os dois espetos da vapâ. Assim, ele é como que tocado e não tocado"<br />
(cf. 6, 3, 5, I). O Çat.Br. explica que a comunicação é misteriosa, ao<br />
mesmo tempo inofensiva e útil para o sacrificante, cujos voto e alma<br />
vão para o céu com a vítima.<br />
182 Não examinamos a questão da "apresentação" da vítima ao deus e da<br />
invocação que a acompanha na maioria das vezes: seríamos levados a<br />
explanações muito longas, pois aqui se trata das relações do sacrifício<br />
e da prece. Digamos apenas que há ritos manuais, como atar o animal<br />
ao poste (como ja vimos) ou aos chifres do altar (Salmos CXVIII,27;<br />
LevÍtico I, I I; Smith 1889: 322), e ritos orais: convites aos deuses,<br />
hinos aos deuses, descrição das qualidades da vítima, definição dos<br />
resultados que se espera. Pede-se a consagração do alto por todos<br />
esses meios reunidos.<br />
183 Aludimos às libações ditas aparyâni do sacrifício animal hindu (Schwab<br />
[1896: 98, n. I]' comentando Taitt.Br. 3, 8, 17,5, associa a palavra<br />
à raiz "pu": "purificar"). Elas se verificam apenas nas escolas do Yajur<br />
Veda negro. No entanto, faz-se a separação do animal por meio do<br />
giro ao redor do fogo e no momento em que ele é levado ao lugar<br />
onde será morto (Ap. çr.su. VII, 15, 4; os mantras são Taitt. S. 3, I, 4, I,<br />
2, explicados em 3, I, 5, I). As formulas exprimem que os deuses se<br />
apoderam do animal e que este vai para o céu; que esse animal repre-<br />
senta os outros, nos rebanhos dos quais Rudra-Pajâpati é o senhor;<br />
que ele é do agrado dos deuses e dará vida e riqueza aos rebanhos;<br />
que ele é a parte de Rudra-Prajâpati, o qual ao receber sua progênie,<br />
ao amarrá-Ia, "vai deixar de amarrar" (fazer morrer) os seres vivos,<br />
animais e homens etc.<br />
184 Stengel 1898: 101; Herodoto lI, 39,4°; Marquardt 1843-64: 192<br />
(em Roma); Smith 1889: 430-3 I; Frazer 1890, I: 364; lI; I 02-SS.Tal<br />
vez se devesse associar a essas praticas o luto da Flaminica durante a<br />
festa das Argeii (Plutarco, Qyestiones romance, 86).<br />
185 Esse rito - bastante geral, como mostrou Frazer - é notavelmente<br />
expresso pelo ritual hindu. No momento de matar a vítima, entre<br />
as formulas que o sacerdote ordenador, o maitravaruna, recita, as do<br />
adhrgunigada (Açv.çr.su. I1I, 3, I, explicado em Ait.Br. 6, 6, I), que fi<br />
guram entre as mais antigas do ritual védico, encontra-se a seguinte:<br />
"Eles nos entregaram esse ser, sua mãe e seu pai, sua irmã e seu irmão<br />
da mesma linhagem e seu companheiro da mesma raça" (Ap.çr.su. VII,<br />
25,7, com Taitt.S. 3, 6, I 1,2; cf. Schwab 1896: 141, n., e Çat.Br. 3,8,<br />
3, I I; Ap.çr.su. VII, 16,7; Taitt.S. 6,3,8,3 e Çat.Br. 3,8, 1,15).<br />
186 O çamitar, "apaziguador", nome eufemÍstico do sacrificador, pode ser<br />
ou não um brâmane (Ap.çr.su. VII, 17, 14). Em todo caso, é um brâ<br />
mane de condição inferior, pois carrega o pecado de ter matado um<br />
ser sagrado, às vezes inviolavel. Há no ritual uma espécie de impre<br />
cação contra ele: "Que em toda a tua raça jamais um apaziguador faça<br />
tais coisas", isto é, que possas não ter sacrificador entre teus parentes<br />
(seguimos o texto de Açr. çr.su, I1I, 3, I, adotado por Schwab, e não Ait.<br />
Br. 6,7, I I).<br />
187 Elien, De Ia nature des animaux, XII, 34 (Tenedos); Smith 1889: 3°5.<br />
188 Porfírio, De Abstinentia 11,29-3°; Pausânias 1,24,4; 28,10; mito da<br />
instituição das Karneia:Pausânias I1I, 13,4; Usener 1898: 359-ss;<br />
Stengel 1898: 140; Platão, Leg. IX, 865.<br />
189 Ver Frazer 1898, I1I: 54-ss.<br />
190 Diz-se: "Vire seus pés para o norte, dirija seu olhar para o sol, espalhe<br />
ao vento sua respiração, à atmosfera sua vida, às regiões sua audição,<br />
à terra seu corpo". Essas indicações (Açv. çr.su. I1I, 3, I; Ait. Br. 6, 6, I 3)<br />
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