GNOSE ALEM DA RAZÃO O FENÔMENO DA SUGESTÃO JEAN ...
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Já se observou também há muito tempo que em geral (em geral, e não<br />
exclusivamente) é entre os alcoólatras, as pessoas muito nervosas, os<br />
instáveis, os histéricos, que estão as pessoas mais facilmente hipnotizáveis,<br />
e são elas que, de ordinário, atingem o estado de sono magnético com mais<br />
dificuldade. É isso que justifica num certo número de casos o emprego<br />
terapêutico temporário da hipnose, que obtém resultados onde não se<br />
conseguiria sequer estabelecer o sono magnético. Inversamente, as pessoas<br />
nas quais este sonho se estabelece mais facilmente parecem em geral ser as<br />
mais rebeldes à hipnose e à sugestão compulsória onde ela conta pouco<br />
mais, pouco menos. O verdadeiro paciente magnético é geralmente mau<br />
paciente hipnótico, e vice-versa.<br />
Depois de Braid, só os magnetizadores tiveram claramente a consciência<br />
das diferenças entre sono magnético e hipnose. De fato, para os<br />
hipnotizadores, o sono magnético, cuja voga esteve aliada à do<br />
magnetismo animal, simplesmente não existe, como já vimos. Ele e a<br />
hipnose são a mesma coisa. E este ponto de vista é o de quase todos os<br />
autores até hoje, de Braid ao próprio Lozanov, e também o de Ellenberger<br />
que, em sua magnífica obra já citada, A Ia Découverte de VInconscient,<br />
não diz uma só palavra sobre a distinção.<br />
Esta confusão entre hipnose e sono magnético logo levou o sonambulismo<br />
artificial pelo caminho da hipnose, e isto é um desvio fundamental em<br />
relação à orientação dada por Puységur e seus êmulos.<br />
A recuperação do sonambuhsmo artificial por Braid e, a seguir, pelos<br />
médicos que se interessaram pela hipnose, teve outra conseqüência grave,<br />
no que diz respeito, especialmente, à história da sugestão. No espírito dos<br />
médicos hipnotizadores, e, pouco a pouco, no espírito do grande público da<br />
segunda metade do século XIX, a sugestão — termo que, como vimos,<br />
Braid começou a vulgarizar — foi e continuou associada à hipnose, prática<br />
que aos olhos de muitos continuaria misteriosa e inquie-tante.<br />
Confundida com a hipnose, faltava à sugestão, para acabar de ser entendida<br />
em sentido contrário pelo grande público e por ele totalmente<br />
desvalorizada, ser associada às doenças mentais. Esta associação, mais<br />
particularmente na França, foi obra da escola de La Salpêtrière.<br />
2. CHARCOT: <strong>SUGESTÃO</strong> E HISTERIA<br />
Alertado pelos trabalhos do médico e fisiologista Richet, e também pelos<br />
de Burq, mais ou menos da mesma época, sobre a influência de certos<br />
metais nos estados hipnóticos, Jean-Marie Charcot, na ocasião tido<br />
mundialmente por mestre inigualado da observação clínica e considerado o<br />
maior neurologista do seu tempo, a partir de 1878 decidiu estudar<br />
experimentalmente a hipnose no seu serviço neurológico para mulheres do<br />
hospital La Salpêtrière, de Paris, onde até então se dedicara ao estudo e ao<br />
tratamento da histeria2.<br />
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