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GNOSE ALEM DA RAZÃO O FENÔMENO DA SUGESTÃO JEAN ...

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suas próprias deformações neuróticas e as deformações que sua prática de<br />

analista ensinou--Ihe a reconhecer em seus pacientes. A complexidade do<br />

psiquis-mo pessoal de Freud, e sua extraordinária capacidade de discernir e<br />

de analisar sutilmente o respectivo mecanismo, durante muito tempo<br />

mascararam o seu profundo desequilíbrio como homem, sua própria<br />

neurose e a extrema pobreza real da vida interior do grande psicólogo<br />

vienense.<br />

Freud, entretanto, viu com muita clareza que o analista deve, também ele,<br />

colocar-se num estado análogo ao do seu paciente, que não é o estado de<br />

vigília.<br />

Em artigo publicado em 1912 no Zentralblatt für Psychoana-lyse, Freud<br />

escreveu: "O psicanalista deve evitar deixar que se exerça, sobre a sua<br />

faculdade de observação, qualquer influência que seja e (deve) confiar<br />

inteiramente em sua "memória inconsciente... sem se preocupar com saber<br />

se vai reter alguma coisa"14. "Assim como o paciente, prossegue Freud,<br />

deve contar tudo o que lhe passa pelo espírito, eliminando toda objeção<br />

lógica e afetiva que o levaria a uma escolha, também o médico deve estar<br />

em condições de interpretar tudo o que ouve a fim de descobrir tudo o que<br />

o inconsciente dissimula, mas isto sem substituir por sua própria censura a<br />

opção que o paciente renunciou. Em resumo: o inconsciente do analista<br />

deve se comportar em relação ao inconsciente emergente do doente como o<br />

receptor telefônico em relação a quem fez a ligação. Assim como o<br />

receptor retransforma as ondas sonoras, assim também o inconsciente do<br />

médico consegue, com a ajuda dos derivados do inconsciente do doente<br />

que chegam até ele, reconstituir este inconsciente do qual emanam as<br />

associações emitidas. Entretanto, para que o médico seja capaz de assim se<br />

servir de seu próprio inconsciente, como de um instrumento, é preciso que,<br />

em larga medida, se submeta a uma certa condição psicológica. Ele não<br />

deve tolerar qualquer resistência suscetível de impedir as percepções do<br />

seu inconsciente chegarem ao seu consciente, caso contrário introduziria na<br />

análise uma nova espécie de seleção e de deformação, bem mais nefastas<br />

do que a provocada por um esforço da sua atenção consciente. Não basta,<br />

por isso, que o médico seja mais ou menos normal; ele deve submeter-se a<br />

uma purificação psicanalítica"15.<br />

Esta longa citação de Freud mostra muito claramente que a cura<br />

psicanalítica na realidade é, ou deveria ser, um contato, uma comunicação<br />

de consciente a inconsciente, que requer um estado intermediário, diferente<br />

do estado normal de vigília, tanto para o analista como para o analisado.<br />

Este simples fato é bastante para situar a cura psicanalítica num plano que<br />

é exatamente o da sugestão, e não o da análise racional, discursiva e<br />

essencialmente intelectual, em direção à qual, entretanto, evoluiu uma<br />

fração muito grande da escola psicanalítica, mais particularmente na<br />

França.

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