GNOSE ALEM DA RAZÃO O FENÔMENO DA SUGESTÃO JEAN ...
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importância. Vulgarizar o termo "sugestionamento", como acabamos de<br />
propor, contribuirá para esclarecer o problema da sugestão e evitará muitas<br />
ambigüidades.<br />
É claro, quanto a isto, que as contradições de Jung, acima acentuadas,<br />
procedem em grande parte da falta de aprofundamento da noção de<br />
sugestão e de forma alguma de sua prática. Raramente, com efeito, o<br />
distanciamento entre a praxis e as noções teóricas que a elucidam e a<br />
formulam terá sido tão extraordinário como no caso de Jung. No domínio<br />
particular da sugestão, como em muitos outros, as intuições e as<br />
descobertas do prático genial da psicoterapia que foi Jung superaram<br />
muito, muito mesmo, as elaborações do seu pensamento teórico.<br />
A terapia de Jung é certamente o oposto da sugestão direta de tipo<br />
autoritário como praticada por Bernheim. Em compensação, essa mesma<br />
terapia de Jung parece-nos estar vinculada à sugestão no sentido mais<br />
positivo da palavra. E isso não incidentalmente, mas fundamentalmente,<br />
em razão da importância atribuída por ele tanto à personalidade do<br />
analisado como à do analista e também por causa do papel desempenhado<br />
pela individuação na psicanálise de Jung.<br />
Como sublinhou seu tradutor (francês) R. Cahen, uma das grandes<br />
dificuldades de Jung está ligada ao fato de não existir um tratado clínico no<br />
qual o mestre de Zurique tenha condensado o essencial dos seus escritos<br />
em matéria de psicoterapia. Apesar das solicitações que lhe foram feitas,<br />
Jung sempre se recusou a escrever tal tratado. Ele estava convencido de<br />
que ainda era muito cedo, de que ainda não tinha chegado a hora de tentar<br />
reunir numa síntese o conjunto dos resultados acumulados pela moderna<br />
psicologia das profundezas.<br />
Mas se Jung não compôs um tratado de psicoterapia foi também, e talvez<br />
principalmente, porque não estava convencido de que o domínio ao qual<br />
dedicara sua vida para decifrar, não o permitia. E isto por duas razões.<br />
Primeiro porque o próprio objeto do estudo, a psique humana, parecia-lhe<br />
muito complexo, muito evanescente, muito fugidio, muito irredutivelmente<br />
misterioso e insondável para que se pudesse razoavelmente tentar prender<br />
pela razão, unicamente por conceitos racionais, dentro de uma teoria de<br />
conjunto mesmo limitada a um método prático de psicoterapia. E depois, e<br />
isso é essencial para o problema de que tratamos, porque o simples fato de<br />
se apresentar diante de um doente armado com uma teoria ou com um<br />
método ou com uma técnica, quaisquer que fossem, já era, aos olhos de<br />
Jung, uma sugestão no sentido constrangedor que ele dava a essa palavra e,<br />
por isso, deveria absolutamente ser proscrita porque não respeitava a<br />
liberdade do paciente.<br />
Jung vai muito longe neste caminho. Não hesita em qualificar o conjunto<br />
da psicanálise freudiana de "sugestiva" porque, usando e abusando,<br />
segundo ele, — e nós compartilhamos deste ponto de vista de Jung — do