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GNOSE ALEM DA RAZÃO O FENÔMENO DA SUGESTÃO JEAN ...

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"por causa da sugestão". O grande jurisconsulto Domat, contemporâneo e<br />

amigo de Pascal, procurava determinar se<br />

"simples pedidos, serviços, carícias, presentes, bajulações" poderiam<br />

configurar a sugestão e provocar a nulidade do ato de testar.<br />

Certos costumes da antiga França exigiam, para a validade de um<br />

testamento, que houvesse menção de que o testador agira "sem<br />

sugestão" de ninguém. Um decreto real de 1735 dispunha que<br />

"a simples sugestão" seria posteriormente causa de nulidade<br />

testamentária, o que se transformou em fonte de inumeráveis<br />

processos. A Encydopédie de Diderot, em 1765, dava à palavra<br />

sugestão apenas seu sentido jurídico. Durante todo o século XIX<br />

e até nossos dias, os casos de anulação de liberalidades motivadas<br />

por "sugestão" não cessaram de fornecer matéria para inúmeras<br />

decisões judiciais, todas caracterizadas pela preocupação de garantir<br />

contra a "sugestão" a vontade livre e refletida do autor da<br />

doação ou do testador.<br />

Entretanto, nos séculos clássicos, a palavra sugestão, às vezes,<br />

era empregada num sentido nem maléfico nem constrangedor. Em<br />

matéria jurídica, às vezes o termo era aplicado no sentido de<br />

súplica. Sugestão: pedido apresentado ao príncipe. Ou então, num<br />

sentido todo especial e próprio da Cúria romana, usava-se a palavra<br />

sugestão para designar um relatório enviado ao Papa, por um<br />

legado, para informá-lo sobre a execução das ordens recebidas ou<br />

dos resultados de uma missão. O neolatinismo de certos retóricos<br />

do fim do século XV e do começo do XVI, e depois deles o dos<br />

escritores da Pléiade, por outro lado, exumou um dos sentidos<br />

da palavra sugestão longinquamente derivado da antigüidade<br />

latina: o de "aviso", "conselho". E no século seguinte ocorre<br />

encontrarmos a palavra sugestão ou o verbo sugerir empregados<br />

neste sentido por certos autores, como por exemplo Racine, em<br />

Athalie: "Que tímidos conselhos vós ousais me sugerir?" (ato III,<br />

cena VI). Mas, para um exemplo como este poderíamos citar uma<br />

centena de outros em que o termo conservava seu sentido mais<br />

tradicional, por exemplo: "as sugestões do demônio", contra as<br />

quais tonitruava Bossuet (Méditations sur l'Évangile — La demière<br />

semaine du Sauveur).<br />

Um sentido pejorativo tão solidamente estabelecido, e há tanto<br />

tempo, não poderia deixar de refletir nas definições da palavra<br />

sugestão dadas tanto nos dicionários dos séculos clássicos como<br />

nos da primeira metade do século passado. Praticamente, não há<br />

um sequer, do Dictionnaire Universel de Furetière (1690) ou do<br />

Dictkmnaire de VAcadémie Française (primeira edição, 1694) ao<br />

Dictionnaire de Trévoux (segunda edição 1771) ou ao Dictionnaire

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