Universidade Federal do Paraná - Departamento de História ...
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Brasil e não pensa em subtrair a fortuna aqui adquirida para o Reino. A história <strong>de</strong> um<br />
português também dá testemunho <strong>de</strong> outros “bons" portugueses que proce<strong>de</strong>ram da mesma<br />
forma. Simulan<strong>do</strong> a idéia <strong>de</strong> um só povo português (Soares não faz menção a brasileiros,<br />
mas sim há portugueses, cristãos e súditos - novamente A fé, a lei e o rei.), uma só religião<br />
e um só Império separa<strong>do</strong> apenas pelo mar.<br />
A edição comentada e organizada por Varnhagen em 1851, está em um contexto<br />
diferente, pois na época <strong>de</strong> sua publicação a In<strong>de</strong>pendência já era um fato estabeleci<strong>do</strong> e<br />
inquestionável. Desta vez a apropriação <strong>de</strong> Gabriel Soares <strong>de</strong> Souza será feita por<br />
brasileiros e para brasileiros, a exemplo <strong>do</strong> que já havia ocorri<strong>do</strong> na mesma época com<br />
obras e relatos que reproduziam o passa<strong>do</strong> "Nacional", e interpretava o Brasil segun<strong>do</strong> uma<br />
construção intelectual, que criava uma nova história oficial, sob os auspícios <strong>do</strong>s nascentes<br />
Institutos Históricos (Nacionais) patrocina<strong>do</strong>s e politicamente organiza<strong>do</strong>s segun<strong>do</strong> os<br />
interesses <strong>do</strong> Po<strong>de</strong>r Mo<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>r.<br />
O resgate e revisão da obra estão relaciona<strong>do</strong>s aos interesses <strong>do</strong> próprio Instituto<br />
Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), ou seja, à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> construção e<br />
legitimação <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> Nacional Brasileiro, à procura das raízes que pu<strong>de</strong>ssem ser<br />
interpretadas como legitimamente brasileiras. Ou ainda, segun<strong>do</strong> as palavras <strong>de</strong> Manoel<br />
Luís Salga<strong>do</strong> Guimarães “traçar a gênese da nacionalida<strong>de</strong> brasileira” 10 . A busca pela<br />
construção <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> nacional, explica a recorrência aos temas e fontes <strong>do</strong> século<br />
XVI.<br />
Os Índios, por exemplo, tema bastante trabalha<strong>do</strong> em Trata<strong>do</strong> Descritivo <strong>do</strong> Brasil<br />
em 1587 era um tema recorrente na produção intelectual e artística brasileira. No perío<strong>do</strong><br />
em que esteve em voga no Brasil, a estética <strong>do</strong> Romantismo, mais particularmente, através<br />
da corrente indianista. Existia por parte <strong>do</strong>s literatos a crença <strong>de</strong> estar realizan<strong>do</strong> um<br />
suposto “resgate" das origens da brasilida<strong>de</strong>. Contu<strong>do</strong>, o resulta<strong>do</strong> produzi<strong>do</strong> pela literatura<br />
indianista, foi um discurso <strong>de</strong> exaltação marca<strong>do</strong> pela construção <strong>de</strong> um passa<strong>do</strong> i<strong>de</strong>aliza<strong>do</strong>.<br />
Torna-se profícuo, contu<strong>do</strong>, salientar que no século XIX, não havia uma<br />
unanimida<strong>de</strong> sobre a maneira pela se <strong>de</strong>veria abordar a temática indígena. Existia uma<br />
diferença <strong>de</strong> visão substancial entre os discursos produzi<strong>do</strong>s pela literatura e pela história.<br />
10 GUIMARÃES, Manoel Luís Salga<strong>do</strong> Guimarães. Nação e Civilização nos Trópicos: O Instituto<br />
Histórico e Geográfico Brasileiro e o Projeto <strong>de</strong> uma <strong>História</strong> Nacional. In Estu<strong>do</strong>s Históricos, Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro, n.1,1988,p.7<br />
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