Universidade Federal do Paraná - Departamento de História ...
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Logo após esta afirmativa, Freyre afirma que “<strong>de</strong>s<strong>de</strong> então o testemunho <strong>do</strong>s<br />
cronistas e viajantes é no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> que a alimentação em Salva<strong>do</strong>r foi difícil e com os<br />
preços geralmente altos” 48 . Contu<strong>do</strong>, não se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> observar que Freyre utiliza-se<br />
<strong>de</strong> uma <strong>do</strong>cumentação oficial que reflete uma realida<strong>de</strong> temporal distante algumas décadas<br />
da realida<strong>de</strong> temporal vivenciada pelo Jesuíta Fernão Cardim. No caso, para se dar fé ao<br />
discurso <strong>de</strong> Freyre e a escolha <strong>de</strong> sua <strong>do</strong>cumentação, seria necessário crer-se em uma<br />
história “quase imóvel”. Só assim po<strong>de</strong>riam se utilizar fontes referentes às décadas <strong>de</strong><br />
20,30e 40 <strong>do</strong> século XVII, para explicar a realida<strong>de</strong> da década <strong>de</strong> 80 <strong>do</strong> século XVI.<br />
No caso, específico <strong>do</strong> passa<strong>do</strong> colonial brasileiro, não seria exatamente a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>,<br />
pois se verificaram importantes mudanças no cenário histórico, pois se <strong>de</strong>ve lembrar que a<br />
monarquia portuguesa sofria uma crise sucessória <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a morte <strong>de</strong> D. Sebastião, que<br />
redundaria mais tar<strong>de</strong> com ascensão <strong>de</strong> Felipe II, que passaria a ser, a cabeça coroada que<br />
reinava sobre Portugal e Castela. O perío<strong>do</strong> <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong> pela Historiografia como “união<br />
Ibérica”, só teria fim, após a chamada Restauração Portuguesa, que se daria apenas na<br />
década <strong>de</strong> 40 <strong>do</strong> século XVII.<br />
Deve-se tomar em conta também, que a época da <strong>do</strong>cumentação utilizada por Freyre<br />
coinci<strong>de</strong> também com a mesma época em que os holan<strong>de</strong>ses tentaram estabelecer seu<br />
<strong>do</strong>mínio na Bahia (A invasão <strong>de</strong> 1624-1625) e a tentativa <strong>de</strong> invasão <strong>de</strong> 1630. As Atas da<br />
Câmara <strong>de</strong> Salva<strong>do</strong>r (1625- 1641) que atestam a carência <strong>de</strong> alimentos na cida<strong>de</strong>, em<br />
termos temporais também coinci<strong>de</strong>m com o perío<strong>do</strong> <strong>do</strong> próprio <strong>do</strong>mínio holandês em<br />
Pernambuco, que foi <strong>de</strong> 1630 a 1654, ten<strong>do</strong> Pernambuco como foco, mas esten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> sua<br />
influência territorial por boa parte da costa leste e setentrional <strong>do</strong> Brasil localizada ao norte<br />
da Bahia.<br />
Desta forma, verifica-se uma ina<strong>de</strong>quação na argumentação <strong>de</strong> Freyre. As fontes <strong>do</strong><br />
século XVII escolhidas por ele não <strong>de</strong>veriam ser utilizadas para <strong>de</strong>screver a situação da<br />
colônia no século XVI. Fazen<strong>do</strong>-se uma breve referência aos relatos <strong>do</strong> início <strong>do</strong>s XVII,<br />
po<strong>de</strong>-se verificar claramente que havia uma <strong>de</strong>terminada carestia <strong>de</strong> gêneros na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Salva<strong>do</strong>r em mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s XVII. Toman<strong>do</strong> como base a página 4 <strong>do</strong> Capítulo segun<strong>do</strong> da<br />
obra HISTÓRIA DO BRASIL, por FREI VICENTE DO SALVADOR, datada na Bahia em<br />
20 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1627, no trecho logo abaixo, po<strong>de</strong> se verificar facilmente esta carestia<br />
48 FREYRE, op. cit. p. 143-144.<br />
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