Universidade Federal do Paraná - Departamento de História ...
Universidade Federal do Paraná - Departamento de História ...
Universidade Federal do Paraná - Departamento de História ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Po<strong>de</strong>-se notar que Gabriel Soares não fala a respeito <strong>de</strong> obrigações <strong>do</strong>s índios<br />
homens <strong>de</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a taba <strong>de</strong> inimigos ou <strong>de</strong> animais bravios. Referências como estas não<br />
se encontram em Trata<strong>do</strong> <strong>de</strong>scritivo <strong>do</strong> Brasil em 1587.<br />
Dan<strong>do</strong> continuação ao assunto da divisão <strong>de</strong> tarefas <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com o gênero, Freyre<br />
insere também o fator ida<strong>de</strong> à discussão sobre a divisão <strong>de</strong> tarefas. Freyre, salienta que<br />
Gabriel Soares não especifica o sexo ou a ida<strong>de</strong> daqueles que <strong>de</strong>sempenhavam ativida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> caráter industrial ou artístico. Em seguida, o próprio Freyre atribui por sua conta<br />
<strong>de</strong>terminadas ativida<strong>de</strong>s aos homens tupinambás, tais como: a confecção <strong>de</strong> “balaios <strong>de</strong><br />
folha <strong>de</strong> palma, e outras vasilhas da mesma folha a seu mo<strong>do</strong> e <strong>do</strong> seu uso” e “cestos <strong>de</strong><br />
varas, a que chamam samburá, e outras vasilhas em lavores, como as <strong>de</strong> rota da Índia”.<br />
Uma breve leitura no extrato da fonte, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> Freyre transcreve os trechos entre<br />
aspas, logo acima revela que Freyre ocultou parte <strong>do</strong> que era <strong>de</strong>scrito por Gabriel Soares,<br />
talvez aquilo que enfatizasse as habilida<strong>de</strong>s artísticas que pu<strong>de</strong>ssem ser atribuídas ao gênero<br />
masculino. Conforme po<strong>de</strong> ser visto logo abaixo, na transcrição <strong>de</strong> trechos <strong>do</strong> Trata<strong>do</strong><br />
<strong>de</strong>scritivo <strong>do</strong> Brasil em 1587: 75<br />
Não fazem os tupinambás entre si outras obras-primas que balaios <strong>de</strong> folhas <strong>de</strong> palma, e outras<br />
vasilhas da mesma fôlha a seu mo<strong>do</strong>, e <strong>do</strong> seu uso; fazem arcos e flechas, e alguns empalha<strong>do</strong>s e<br />
lavra<strong>do</strong>s <strong>de</strong> branco e preto, feitio <strong>de</strong> muito artifício; fazem cestos <strong>de</strong> varas, a que chamam samburá, e<br />
outras vasilhas em lavores, como as <strong>de</strong> rota da Índia; fazem carapuças e capas <strong>de</strong> penas <strong>de</strong> pássaros,<br />
e outras obras <strong>de</strong> pena <strong>de</strong> seu uso, e sabem dar tinta <strong>de</strong> vermelho e amarelo às penas brancas; e<br />
também contrafazem as penas <strong>do</strong>s papagaios com sangue <strong>de</strong> rãs, arrancan<strong>do</strong>-lhes as ver<strong>de</strong>s, e fazemlhes<br />
nascer outras, amarelas; fazem mais estes índios, os que são principais, re<strong>de</strong>s lavradas <strong>de</strong> lavores<br />
<strong>de</strong> esteiras, e <strong>de</strong> outros laços, e umas cordas tecidas, a que chamam muçuranas, <strong>de</strong> algodão, que têm<br />
o feitio <strong>do</strong>s cabos <strong>de</strong> cabresto que vêm <strong>de</strong> Fez.<br />
É importante salientar que Gabriel Soares realmente não atribui claramente as<br />
tarefas aos respectivos gêneros ou ida<strong>de</strong>s, contu<strong>do</strong>, uma leitura mais atenta <strong>de</strong>ste trecho<br />
extraí<strong>do</strong> da fonte acima: “fazem mais estes índios, os que são principais, re<strong>de</strong>s lavradas <strong>de</strong><br />
lavores <strong>de</strong> esteiras, e <strong>de</strong> outros laços, e umas cordas tecidas, a que chamam muçuranas, <strong>de</strong><br />
algodão, que têm o feitio <strong>do</strong>s cabos <strong>de</strong> cabresto que vêm <strong>de</strong> Fez.”. Revela que o termo<br />
“principais” indica não somente o gênero (masculino) como também revela o “status” <strong>de</strong><br />
quem realiza tais ativida<strong>de</strong>s.<br />
75 SOUZA, op. cit. pp.311-312.<br />
51