Universidade Federal do Paraná - Departamento de História ...
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E daqui até Tamaratiba serão duas léguas <strong>de</strong> costa <strong>de</strong>sta ilha, entre a qual e a <strong>de</strong> Tamaratiba haverá<br />
espaço <strong>de</strong> um tiro <strong>de</strong> falcão. Esta ilha <strong>de</strong> Tamaratiba tem uma légua <strong>de</strong> compri<strong>do</strong>, e meia <strong>de</strong> largo,<br />
cuja terra não serve para mais que para mantimentos, on<strong>de</strong> vivem seis ou sete mora<strong>do</strong>res, a qual é <strong>do</strong><br />
con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Castanheira.<br />
Avante <strong>de</strong>sta ilheta, numa enseada gran<strong>de</strong> que Taparica faz, está um engenho <strong>de</strong> açúcar que lavra<br />
com bois, o qual é <strong>de</strong> Gaspar Pacheco, por cujo porto se servem os mora<strong>do</strong>res que vivem pelo sertão<br />
da ilha, on<strong>de</strong> tem uma igreja <strong>de</strong> Santa Cruz; e <strong>de</strong>ste engenho a duas léguas está a ponta <strong>de</strong> Tapa-rica,<br />
que é mais saída ao mar, que se chama ponta da Cruz, até on<strong>de</strong> está povoada a ilha <strong>de</strong> mora<strong>do</strong>res,<br />
que lavram mantimentos e algumas canas<br />
Da ponta <strong>de</strong> Taparica se torna a recolher a terra fazen<strong>do</strong> rosto para a cida<strong>de</strong>, a qual está toda povoada<br />
<strong>de</strong> mora<strong>do</strong>res que lavram muitos mantimentos e canaviais.<br />
Pois se tem da<strong>do</strong> conta tão particular da grandura da Bahia <strong>de</strong> To<strong>do</strong>s os Santos e <strong>do</strong> seu po<strong>de</strong>r, é bem<br />
que digamos a fertilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>la um pedaço, e como produz em si as criações das aves e alimárias <strong>de</strong><br />
Espanha e os frutos <strong>de</strong>la, que nesta terra se plantam. Tratan<strong>do</strong> em suma da fertilida<strong>de</strong> da terra, digo<br />
que acontece muitas vezes valer mais a novida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma fazenda que a proprieda<strong>de</strong>, pelo que os<br />
homens se mantêm honradamente com pouco cabedal, se se querem acomodar com a terra e remediar<br />
com os mantimentos <strong>de</strong>la, <strong>do</strong> que é muito abastada e provida.<br />
Até agora se disse da fertilida<strong>de</strong> da terra da Bahia tocante às árvores <strong>de</strong> fruto da Espanha, e às outras<br />
sementes que se nela dão. E já se sabe como nesta província frutificam as alheias, saibamos <strong>do</strong>s seus<br />
mantimentos naturais; e peguemos primeiro da mandioca, que é o principal mantimento e <strong>de</strong> mais<br />
substância, que em Portugal chamam farinha-<strong>de</strong>-pau.<br />
Dão-se nesta terra infinida<strong>de</strong> <strong>de</strong> feijões naturais <strong>de</strong>la, uns são brancos, outros pretos, outros<br />
vermelhos, e outros pinta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> branco e preto, os quais se plantam a mão, e como nascem põe-selhe<br />
a cada pé um pau, por on<strong>de</strong> atrepam,<br />
Chamam os índios jerimus às abóboras-da-quaresma, que são naturais <strong>de</strong>sta terra, das quais há <strong>de</strong>z<br />
ou <strong>do</strong>ze castas, cada uma <strong>de</strong> sua feição; e plantam-se duas vezes no ano, em terra.<br />
To<strong>do</strong>s estes extratos da obra <strong>de</strong> Gabriel Soares são os que Freyre omitiu em seu<br />
discurso e <strong>de</strong>smontam sua argumentação. Na realida<strong>de</strong>, Freyre apropriou-se apenas <strong>de</strong> um<br />
pequeno trecho da obra <strong>de</strong> Gabriel Soares que po<strong>de</strong>ria dar sustentação a sua teoria,<br />
ignoran<strong>do</strong> toda uma série <strong>de</strong> relatos <strong>de</strong> Gabriel Soares que falam justamente o contrário<br />
daquilo que Freyre sustenta em Casa-Gran<strong>de</strong> e Senzala.<br />
A gran<strong>de</strong> e maior parte das apropriações <strong>de</strong> Gilberto Freyre sobre a obra <strong>de</strong> Gabriel<br />
Soares, se dá em torno da Temática indígena. Contu<strong>do</strong>, <strong>de</strong>ve-se notar que o cronista <strong>do</strong><br />
século XVI, embora utilize o termo índio, não o emprega sempre no mesmo senti<strong>do</strong><br />
emprega<strong>do</strong> por Freyre. Freyre se reporta a toda casta <strong>de</strong> etnias ameríndias, pelo nome <strong>de</strong><br />
índios ou indígenas, em uma evi<strong>de</strong>nte generalização muito comum na linguagem<br />
corriqueira da maior parte das pessoas, inclusive <strong>de</strong> pesquisa<strong>do</strong>res que por comodida<strong>de</strong> e<br />
ampla facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> entendimento <strong>de</strong> quem lê, utiliza-se <strong>de</strong>sta categoria <strong>de</strong> análise que em<br />
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