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Universidade Federal do Paraná - Departamento de História ...

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terra e <strong>de</strong> Portugal: berinjelas, alfaces, abóboras, rabãos e outros legumes e hortaliças” 51 .<br />

Da mesma forma que na realida<strong>de</strong> <strong>do</strong> século XVII, as afirmações <strong>de</strong> Frei Vicente <strong>do</strong><br />

Salva<strong>do</strong>r (século XVII) não <strong>de</strong>smentem o que está conti<strong>do</strong> nos trechos escolhi<strong>do</strong>s por<br />

Freyre das ATAS DA CÂMARA DE SALVADOR 1625-1644.<br />

Ainda em relação a esta mesma problemática construída por Freyre, <strong>de</strong>ve-se analisar<br />

o seguinte trecho <strong>de</strong> Casa-gran<strong>de</strong> e Senzala , no qual Freyre se apropria <strong>de</strong> uma passagem<br />

<strong>de</strong> Trata<strong>do</strong> <strong>de</strong>scritivo <strong>do</strong> Brasil em 1587, afirman<strong>do</strong> o que se segue 52 :<br />

len<strong>do</strong>-se o mais objetivo Gabriel Soares <strong>de</strong> Souza vê-se que na fase anterior à monocultura<br />

absorvente, fase ainda <strong>de</strong> conciliação da gran<strong>de</strong> lavoura – o açúcar - com o gosto tradicional <strong>do</strong>s<br />

portugueses pela horticultura e a que já nos referimos, parecem ter si<strong>do</strong> excepcionais as plantações<br />

como a <strong>de</strong> João Nogueira francamente policultoras (grifo meu), com roças <strong>de</strong> mantimentos,<br />

porcos e rebanhos <strong>de</strong> ga<strong>do</strong>. É que a terra <strong>de</strong> sua proprieda<strong>de</strong> era pobre <strong>de</strong>mais para a cultura da cana<br />

e nela os rios eram pequenos <strong>de</strong>mais para tocar os engenhos.<br />

Ao ler e comparar com o que escreveu Gabriel Soares no trecho logo abaixo,<br />

observa-se que Freyre não <strong>de</strong>scontextualizou o que foi escrito por Soares no Trata<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong>scritivo <strong>do</strong> Brasil em 1587, sua paráfrase reproduz a essência <strong>do</strong> que foi escrito por<br />

Soares 53 :<br />

Esta ilha <strong>do</strong>s Fra<strong>de</strong>s é <strong>de</strong> um João Nogueira, lavra<strong>do</strong>r, o qual está <strong>de</strong> assento nela com seis ou sete<br />

lavra<strong>do</strong>res, que nela têm da sua mão, on<strong>de</strong> têm suas granjearias <strong>de</strong> roças <strong>de</strong> mantimentos, com<br />

criações <strong>de</strong> vacas e porcos; a qual ilha tem muitas águas, mas pequenas para engenhos, cuja terra é<br />

fraca para canaviais <strong>de</strong> açúcar.<br />

Mas, apesar <strong>de</strong> ser possível verificar que Freyre parafraseia Gabriel Soares, sem<br />

produzir distorções, também é verificável através <strong>de</strong> uma leitura completa da obra Trata<strong>do</strong><br />

Descritivo <strong>do</strong> Brasil em 1587, que Freyre omite toda uma série <strong>de</strong> testemunhos produzi<strong>do</strong>s<br />

por Soares que contrariam frontalmente o discurso Freyriano. Na verda<strong>de</strong>, Freyre<br />

apropriou-se <strong>de</strong> um trecho da obra <strong>de</strong> Soares que dava sustentação ao seu discurso,<br />

apegan<strong>do</strong>-se ao que pertencia ao campo das exceções para transformar em regra geral.<br />

Através <strong>de</strong> uma leitura mais atenta <strong>de</strong> Gabriel Soares, encontra-se inúmeros trechos que<br />

<strong>de</strong>monstram ser a proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> João Nogueira uma exceção. Aliás, este mesmo João<br />

51 FREYRE, op. cit. p. 143.<br />

52 FREYRE, op. cit. p. 144.<br />

53 SOUZA, op. cit. p. 144<br />

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