Universidade Federal do Paraná - Departamento de História ...
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A construção textual <strong>de</strong> Freyre se mostra tão confusa quanto os trechos supracita<strong>do</strong>s<br />
da mesma página. Talvez, e com muito esforço <strong>de</strong> interpretação <strong>de</strong> quem lê, seja possível<br />
supor que a intenção <strong>de</strong> Freyre seja a <strong>de</strong> igualar as habilida<strong>de</strong>s <strong>do</strong>s inverti<strong>do</strong>s às habilida<strong>de</strong>s<br />
da arte e da indústria que ele próprio atribui às mulheres. Mas mesmo que se trate disto, a<br />
inserção <strong>do</strong> comentário é mal articulada. Veja o que Freyre escreveu: 78<br />
Eram ainda as mulheres que plantavam o mantimento e que iam buscar a água à fonte; que<br />
preparavam a comida; que cuidavam <strong>do</strong>s meninos. Vê-se que não era pequena a importância da<br />
mulher velha entre os indígenas; enorme a da mulher, em geral; e nessa categoria o estu<strong>do</strong><br />
compara<strong>do</strong> da arte e da indústria entre os primitivos autoriza-nos a colocar o homem efemina<strong>do</strong> ou<br />
mesmo o inverti<strong>do</strong> sexual, comum entre várias tribos brasílicas.<br />
Como se pô<strong>de</strong> verificar através da leitura acima a inserção <strong>do</strong>s comentários a<br />
respeito <strong>do</strong>s “inverti<strong>do</strong>s”, não parece fazer muito senti<strong>do</strong>, ao passo que a respeito das<br />
mulheres percebe-se claramente o senti<strong>do</strong> da apropriação <strong>de</strong> Freyre sobre a obra <strong>de</strong> Gabriel<br />
Soares, pois toda a argumentação serve para dar sustentação à tese <strong>de</strong> Freyre <strong>de</strong> que a<br />
mulher indígena e não o homem indígena foi <strong>de</strong> maior utilida<strong>de</strong> social e econômica no<br />
processo <strong>de</strong> colonização portuguesa. Conforme po<strong>de</strong> ser verifica<strong>do</strong> na leitura <strong>de</strong> Casa<br />
Gran<strong>de</strong> e senzala 79 .<br />
Ainda falan<strong>do</strong> sobre a sexualida<strong>de</strong> indígena 80 , Freyre se apropria <strong>de</strong> Trata<strong>do</strong><br />
Descritivo <strong>do</strong> Brasil como testemunho da existência <strong>de</strong> homossexualismo entre os<br />
Tupinambás. Neste senti<strong>do</strong> transcreve o seguinte trecho da obra <strong>de</strong> Gabriel Soares, on<strong>de</strong> o<br />
mesmo trata da luxúria <strong>do</strong>s “bárbaros” 81 , conforme segue:<br />
mui affeiçoa<strong>do</strong>s ao peca<strong>do</strong> nefan<strong>do</strong>, entre os quaes se não têm por afronta; e o que se serve <strong>de</strong><br />
macho, se tem por valente, e contam esta bestialida<strong>de</strong> por proeza; e nas suas al<strong>de</strong>ias pelo certo (erro<br />
<strong>de</strong> transcrição <strong>de</strong> Gilberto Freyre – no original consta sertão ao invés <strong>de</strong> certo) há alguns que teem<br />
tenda publica a quantos os querem como mulheres publicas.<br />
78 FREYRE, op. cit. p.184<br />
79 FREYRE, op. cit. pp. 185-186.<br />
80 FREYRE, op. cit. p.188.<br />
81 SOUZA, op. cit. p. 308.<br />
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