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Universidade Federal do Paraná - Departamento de História ...

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C A P Í T U L O CXXVII<br />

Que trata <strong>do</strong>s homens marinhos.<br />

Não há dúvida senão que se encontram na Bahia e nos recôncavos <strong>de</strong>la muitos homens marinhos, a<br />

que os índios chamam pela sua língua upupiara, os quais andam pelo rio <strong>de</strong> água <strong>do</strong>ce pelo tempo <strong>do</strong><br />

verão, on<strong>de</strong> fazem muito dano aos índios pesca<strong>do</strong>res e marisca<strong>do</strong>res que andam em jangada, on<strong>de</strong> os<br />

tomam, e aos que andam pela borda da água, meti<strong>do</strong>s nela; a uns e outros apanham, e metem-nos<br />

<strong>de</strong>baixo da água, on<strong>de</strong> os afogam; os quais saem à terra com a maré vazia afoga<strong>do</strong>s e mordi<strong>do</strong>s na<br />

boca, narizes e na sua natura; e dizem outros índios pesca<strong>do</strong>res que viram tomar estes mortos que<br />

viram sobre água uma cabeça <strong>de</strong> homem lançar um braço fora <strong>de</strong>la e levar o morto; e os que isso<br />

viram se recolheram fugin<strong>do</strong> à terra assombra<strong>do</strong>s, <strong>do</strong> que ficaram tão atemoriza<strong>do</strong>s que não quiseram<br />

tornar a pescar daí a muitos dias; o que também aconteceu a alguns negros <strong>de</strong> Guiné; os quais<br />

fantasmas ou homens marinhos mataram por vezes cinco índios meus; e já aconteceu tomar um<br />

monstro <strong>de</strong>stes <strong>do</strong>is índios pesca<strong>do</strong>res <strong>de</strong> uma jangada e levarem um, e salvar-se outro tão<br />

assombra<strong>do</strong> que esteve para morrer; e alguns morrem disto. E um mestre-<strong>de</strong>-açúcar <strong>do</strong> meu engenho<br />

afirmou que olhan<strong>do</strong> da janela <strong>do</strong> engenho que está sobre o rio, e que gritavam umas negras, uma<br />

noite, que estavam lavan<strong>do</strong> umas fôrmas <strong>de</strong> açúcar, viu um vulto maior que um homem à borda da<br />

água, mas que se lançou logo nela; ao qual mestre-<strong>de</strong>-açúcar as negras disseram que aquele fantasma<br />

vinha para pegar nelas, e que aquele era o homem marinho, as quais estiveram assombradas muitos<br />

dias; e <strong>de</strong>stes acontecimentos acontecem muitos no verão, que no inverno não falta nunca nenhum<br />

negro.<br />

É importante que se note após a leitura da fonte, que Freyre se refere unicamente<br />

aos indígenas, ao passo que Gabriel Soares, faz menção também <strong>de</strong> negros e brancos (no<br />

caso ele próprio).<br />

SOBRE OS CASTIGOS CORPORAIS OU SOBRE A FALTA DELES NA<br />

EDUCAÇÃO INFANTIL DADA PELOS PAIS.<br />

Gilberto Freyre, ao dissertar sobre o uso ou não uso da violência na educação das<br />

crianças indígenas, 96 diz que por generalização po<strong>de</strong>-se afirmar que o menino indígena<br />

“crescia livre <strong>de</strong> castigos corporais e <strong>de</strong> disciplina ou materna” 97 , Freyre reforça a<br />

afirmação anterior na página seguinte <strong>de</strong> Casa-Gran<strong>de</strong> e Senzala 98 , porém o que sustenta a<br />

afirmação <strong>de</strong> Freyre são as observações <strong>de</strong> Frei Vicente <strong>do</strong> Salva<strong>do</strong>r 99 <strong>de</strong> que estaria livre a<br />

criança selvagem <strong>do</strong>” puxavante <strong>de</strong> orelha e <strong>do</strong> muxicão disciplina<strong>do</strong>r”. Segun<strong>do</strong> o Frei, até<br />

mesmo os “erros e crimes” ficariam sem castigo entre os indígenas brasileiros.<br />

96 FREYRE, op. cit. p. 208.<br />

97 FREYRE, op. cit.p. 207.<br />

98 FREYRE, op. cit. p. 208<br />

99 FREYRE, op. cit. p. 208<br />

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