15.05.2013 Views

Universidade Federal do Paraná - Departamento de História ...

Universidade Federal do Paraná - Departamento de História ...

Universidade Federal do Paraná - Departamento de História ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Ao analisar a fonte acima, cabe a pergunta... Seria isto o que Gilberto Freyre e<br />

outros autores da Historiografia brasileira <strong>de</strong>finem como banzo? Se a resposta for positiva,<br />

não se <strong>de</strong>ve estabelecer uma relação necessária entre banzo e trabalho, ou ainda <strong>de</strong> banzo<br />

com escravidão. Nem tão pouco relacionar o conceito <strong>de</strong> banzo com relações <strong>de</strong> <strong>do</strong>minação<br />

e subordinação entre povos, mas no máximo entre indivíduos pertencentes a uma mesma<br />

cultura, on<strong>de</strong> a relação <strong>de</strong> <strong>do</strong>minação se estabelece pela crença no sobrenatural.<br />

Quanto ao hábito <strong>de</strong> comer barro para morrer o cronista julga o hábito em si uma<br />

barbárie 115 , porém Soares parece enten<strong>de</strong>r que tal <strong>de</strong>cisão é <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m pessoal <strong>do</strong> indivíduo,<br />

motivada por causas emocionais. Porém, o conhecimento da técnica para acelerar o fim da<br />

própria vida, para os Tupinambás não é um conhecimento que po<strong>de</strong> ser credita<strong>do</strong> ao<br />

homem, mas credita<strong>do</strong> a forças ocultas que adquirem uma personificação. A personificação<br />

<strong>de</strong>stas forças ocultas curiosamente parece coincidir tanto no imaginário Tupinambá, quanto<br />

no imaginário judaico-cristão <strong>do</strong> cronista. Talvez por isso, Gabriel Soares julgue o ato em si<br />

uma barbárie, mas não questiona ou julga o fato <strong>de</strong> tal conhecimento, ter si<strong>do</strong> lega<strong>do</strong> aos<br />

Tupinambás, pelo próprio responsável pela danação eterna das almas. Conforme po<strong>de</strong> ser<br />

verifica<strong>do</strong> no trecho abaixo <strong>do</strong> Trata<strong>do</strong> <strong>de</strong>scritivo <strong>do</strong> Brasil em 1587. 116<br />

Muitas vezes acontece aparecer o diabo a este gentio, em lugares escuros, e os espanca <strong>de</strong><br />

que correm <strong>de</strong> pasmo; mas a outros não faz mal, e lhes dá novas <strong>de</strong> coisas sabidas. Tem este gentio<br />

outra barbaria muito gran<strong>de</strong>, que se tomam qualquer <strong>de</strong>sgosto, se anojam <strong>de</strong> maneira que <strong>de</strong>terminam<br />

<strong>de</strong> morrer; e põem-se a comer terra, cada dia uma pouca, até que vêm a <strong>de</strong>finhar e inchar <strong>do</strong> rosto e<br />

olhos, e morrer disso, sem lhe ninguém po<strong>de</strong>r valer, nem <strong>de</strong>sviar <strong>de</strong> se quererem matar; o que<br />

afirmam que lhes ensinou o diabo, e que lhes aparece, como se <strong>de</strong>terminam a comer a terra.<br />

Mais uma vez, a partir da leitura da fonte, po<strong>de</strong>-se retomar a discussão <strong>do</strong> que seria<br />

o banzo, conforme é coloca<strong>do</strong> por Gilberto Freyre. Na obra <strong>de</strong> Gabriel Soares <strong>de</strong> Souza, tal<br />

termo não aparece (provavelmente o termo não fosse emprega<strong>do</strong>, ou não fosse <strong>de</strong> uso<br />

corrente no século XVI). Ainda assim, é possível especular que o quadro <strong>de</strong>scrito por<br />

Gabriel Soares, se assemelha ao quadro clínico <strong>do</strong> que nos dias atuais (século XX-XXI) se<br />

<strong>de</strong>nomina na literatura médica e no uso vulgar – como sen<strong>do</strong> – <strong>de</strong>pressão. Seria o banzo<br />

uma palavra que no passa<strong>do</strong> era usada para <strong>de</strong>screver os sintomas que atualmente<br />

correspon<strong>de</strong>m ao termo <strong>de</strong>pressão? Mas aí cabe uma outra pergunta: Por que o chama<strong>do</strong><br />

115 SOUZA, op. cit. pp. 314-315.<br />

116 SOUZA, op. cit. pp. 314-315.<br />

66

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!