Universidade Federal do Paraná - Departamento de História ...
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O Seguinte trecho <strong>do</strong> texto <strong>de</strong> Freyre, on<strong>de</strong> ele se apropria <strong>de</strong> Gabriel Soares, é <strong>de</strong><br />
construção, um tanto quanto confusa, veja: 76<br />
Os “balaios <strong>de</strong> folhas <strong>de</strong> palma, e outras vasilhas da mesma folha a seu mo<strong>do</strong>, e <strong>do</strong> seu uso”, os “<br />
cestos <strong>de</strong> vara, a que chamam samburá, e outras vasilhas em lavores, como os da rota da índia”,<br />
teriam si<strong>do</strong> arte <strong>de</strong> iniciativa masculina. Seriam ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ambos os sexos e não <strong>de</strong> um só:<br />
ativida<strong>de</strong> também <strong>do</strong>s meninos, e não apenas <strong>de</strong> gente gran<strong>de</strong>.<br />
Ao mesmo tempo em que Freyre afirma enfaticamente que <strong>de</strong>terminadas ativida<strong>de</strong>s<br />
teriam si<strong>do</strong> <strong>de</strong> iniciativa masculina, na frase seguinte ele afirma (estabelecen<strong>do</strong> uma<br />
contradição com a frase anterior) que as ditas ativida<strong>de</strong>s seriam <strong>de</strong> ambos os sexos e<br />
não <strong>de</strong> um só. Não bastan<strong>do</strong> ele ainda inclui os meninos também.<br />
Desta forma fica difícil saber, afinal o que Freyre quis dizer. Logo adiante, Freyre<br />
irá se apropriar <strong>de</strong> outro trecho da mesma página <strong>de</strong> Trata<strong>do</strong> Descritivo <strong>do</strong> Brasil em 1587,<br />
<strong>de</strong>sta vez para <strong>de</strong>finir quais as tarefas exclusivas da mulher, atribuin<strong>do</strong> a autoria a Gabriel<br />
Soares, através <strong>de</strong> uma longa e pouco glosada transcrição. On<strong>de</strong> Freyre salienta as re<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
fio <strong>de</strong> algodão e as “fitas com passamanes e algumas mais largas, com que enastram os<br />
cabelos”, <strong>de</strong> resto é transcrição, como se po<strong>de</strong> ver abaixo: 77<br />
As mulheres já <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> têm cuida<strong>do</strong> <strong>de</strong> fazerem a farinha <strong>de</strong> que se mantêm, e <strong>de</strong> trazerem a<br />
mandioca das roças às costas para a casa; e as que são muito velhas têm cuida<strong>do</strong> <strong>de</strong> fazerem vasilhas<br />
<strong>de</strong> barro a mão como são os potes em que fazem os vinhos, e fazem alguns tamanhos que levam<br />
tanto como uma pipa, em os quais e em outros, menores, fervem os vinhos que bebem; fazem mais<br />
estas velhas panelas, púcaros e alguidares a seu uso, em que cozem a farinha, e outros em que a<br />
<strong>de</strong>itam e em que comem, lavra<strong>do</strong>s <strong>de</strong> tintas <strong>de</strong> cores; a qual louça cozem numa cova que fazem no<br />
chão; e põem-lhe a lenha por cima; e têm e crêem estas índias que se cozer esta louça outra pessoa,<br />
que não seja a que a fez, que há <strong>de</strong> arrebentar no fogo; as quais velhas ajudam também a fazer a<br />
farinha que se faz no seu lanço.<br />
Logo em seguida, Freyre realiza outra intervenção, <strong>de</strong>sta vez misturan<strong>do</strong> a<br />
interpretação da fonte com interpretações suas. Po<strong>de</strong>–se ver através <strong>do</strong> pequeno trecho <strong>de</strong><br />
Casa-Gran<strong>de</strong> e Senzala, que será mostra<strong>do</strong> na seqüência, que Freyre procura <strong>de</strong>stacar a<br />
importância da mulher indígena, contu<strong>do</strong>, fala também <strong>do</strong>s “inverti<strong>do</strong>s”, sem que seja<br />
possível enxergar o que ele pretendia, ao falar <strong>de</strong> “homossexuais indígenas” (grifo meu),<br />
pois o trecho que aborda os efemina<strong>do</strong>s e os inverti<strong>do</strong>s não se articula com os trechos<br />
anteriores e posteriores.<br />
76 FREYRE, op. cit. p.184<br />
77 SOUZA, op. cit. p.312.<br />
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