Acessar Dissertação - Programa de Pós-Graduação em Ciências ...
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Portanto, minha condição <strong>de</strong> pertencimento a um grupo que se i<strong>de</strong>ntifica como<br />
quilombola po<strong>de</strong> parecer para o próprio grupo, <strong>de</strong> modo relacional, a maneira discutida por<br />
Roberto Cardoso <strong>de</strong> Oliveira (1976), ou ainda situacional, como fala Manuela Carneiro da<br />
Cunha (1985) quando fala sobre a forma <strong>de</strong> ser da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> étnica. Sobretudo, como<br />
alguém que pertencendo a esse grupo é i<strong>de</strong>ntificado ou questionado sobre ser quilombola.<br />
E minha condição a<strong>de</strong>mais é <strong>de</strong> qu<strong>em</strong> transita <strong>de</strong>ntro e fora <strong>de</strong>sse grupo por suas relações<br />
<strong>de</strong> parentesco e trabalho. É por esse trabalho que sou a <strong>de</strong> fora e institucionalizada,<br />
principalmente para aqueles <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s vizinhas. Desse modo, procurei lidar <strong>de</strong><br />
forma que esse pertencimento não interferisse na condição <strong>de</strong> pesquisadora, <strong>em</strong> certos<br />
momentos mantendo um certo distanciamento, <strong>em</strong> outros talvez, confundido essas<br />
i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s (SALEM, 1978).<br />
Feitas essas consi<strong>de</strong>rações, para enten<strong>de</strong>r o processo associativo cuja i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />
quilombola t<strong>em</strong> gran<strong>de</strong> relevância, trazidas nas próprias falas dos entrevistados, utilizei<br />
entrevistas e observação direta, a fim <strong>de</strong> apreen<strong>de</strong>r como os atores conceb<strong>em</strong> o processo<br />
que se encontra respaldado <strong>em</strong> leis e <strong>de</strong>cretos instituídos a partir da Constituição Brasileira<br />
<strong>de</strong> 1988. Consi<strong>de</strong>ro estes procedimentos importantes para reconhecer as construções<br />
históricas e as representações dos quilombolas.<br />
As <strong>de</strong>mandas pela titulação coletiva das terras quilombolas, com base na<br />
Constituição <strong>de</strong> 1988 e Atos e Decretos posteriores que versam sobre garantia dos diretos<br />
às “populações tradicionais” ou “Povos e comunida<strong>de</strong>s tradicionais”, têm <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ado<br />
mobilizações políticas, econômicas e interação com diversos agentes sociais externos<br />
(ongs, entida<strong>de</strong>s, movimentos sociais, agências governamentais), fato que se coloca<br />
claramente para o povoado <strong>de</strong> Santo Antonio.<br />
É nesse contexto que se intensificam a atuação nas formas associativas, ao mesmo<br />
t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que fica mais visível a formulação <strong>de</strong> discursos e práticas <strong>de</strong> homens e mulheres<br />
<strong>em</strong> torno <strong>de</strong> diversas ações. A <strong>de</strong>fesa do direito a terra; titulação coletiva ou individual; uso<br />
dos recursos e do território; suportes técnicos e econômicos para melhores condições da<br />
vida no campo, são discursos que se elaboram mediante conflitos, contradições e superação<br />
dos mesmos. E <strong>em</strong> suas contradições e coerência perpassam a dinâmica das práticas<br />
associativas e se <strong>de</strong>stacam no que tange a pr<strong>em</strong>issa <strong>de</strong> b<strong>em</strong> comum, a coletivida<strong>de</strong>, a<br />
cooperação mútua (MACEDO, 1986; SIMMEL, 1993, ALMEIDA, 2006).<br />
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