Acessar Dissertação - Programa de Pós-Graduação em Ciências ...
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vieram compor a “comunida<strong>de</strong>” <strong>de</strong> Santo Antonio, recent<strong>em</strong>ente, e enten<strong>de</strong>r a relação que<br />
se mantém entre eles.<br />
Da minha infância e pré-adolescência guardo na m<strong>em</strong>ória, a prática <strong>de</strong> “troca <strong>de</strong><br />
dia” e <strong>de</strong> “putirão” ou “mutirão”, entre moradores (MOTTA-MAUÉS, 1993; PINTO,<br />
2004). Esta forma <strong>de</strong> trabalho consiste <strong>em</strong> convidar, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os vizinhos mais chegados até<br />
outros mais distantes, fora dos enlaces cotidianos, para um dia <strong>de</strong> trabalho, principalmente<br />
para “roçar”, “<strong>de</strong>rrubar” e “capinar” 6 . O dono da casa recepcionava seus convidados<br />
servindo os alimentos naquele dia. Estes constavam geralmente <strong>de</strong> café da manhã,<br />
merenda, almoço e o jantar, respectivamente.<br />
Alguns aspectos <strong>de</strong>ssa prática <strong>de</strong> putirão com todo seu ritual e grandiosida<strong>de</strong> como<br />
é <strong>de</strong>scrito como parte dos antigos costumes, escapam a minha m<strong>em</strong>ória; <strong>de</strong>sse modo<br />
interlocutores afirmam que houve ocasiões <strong>em</strong> se reunia um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> homens e<br />
mulheres <strong>em</strong> “putirão” que terminavam com festa dançante, ou seja, na noite daquele dia<br />
<strong>de</strong> trabalho promoviam a festa que durava até o amanhecer.<br />
O “putirão”, como um momento que marca/marcou para mim uma forma <strong>de</strong><br />
associação <strong>em</strong> Santo Antonio, hoje é reclamado por parte dos moradores <strong>de</strong>vido já não ser<br />
tão comum <strong>de</strong> acontecer. Entretanto, a “troca <strong>de</strong> dia” ainda é mais presente nos costumes<br />
locais, apesar <strong>de</strong> seus altos e baixos. Este modo <strong>de</strong> trabalho coletivo, ao contrário do<br />
“putirão”, estabelece um sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> ida e volta mais imediato, numa dimensão <strong>de</strong><br />
“prestações e contra-prestações” conforme as palavras <strong>de</strong> Marcel Mauss (1974) 7 . Assim, o<br />
grupo se alterna nas roças dos participantes para realizar os trabalhos, sobretudo a<br />
“capinação” 8 .<br />
Mas, não só o associativismo 9 voltado para o trabalho agrícola <strong>de</strong>sperta meu olhar<br />
sobre esse tipo <strong>de</strong> relações locais. Portanto, as vezes r<strong>em</strong>etida a minha própria m<strong>em</strong>ória,<br />
aos dados disponíveis e nas falas dos interlocutores, percebo o ex<strong>em</strong>plo das décadas <strong>de</strong><br />
6 “roçar” e “<strong>de</strong>rrubar”, a penúltima também chamada <strong>de</strong> “brocar”, são tarefas <strong>de</strong> preparação do lugar da roça.<br />
O primeiro <strong>de</strong>termina-se pela retirada <strong>de</strong> pequenas arvores, galhos, cipós, utilizando-se <strong>de</strong> instrumentos como<br />
foices e terçados. A “<strong>de</strong>rruba” consiste numa segunda etapa para a retirada das arvores maiores utilizando-se<br />
<strong>de</strong> machadado ou mais recente <strong>de</strong> moto-serra.<br />
7 Para Marcel Mauss (1974), entretanto, os dons e contra-dons são feitos, “<strong>de</strong> uma forma sobretudo<br />
voluntária, por presentes, regalos, <strong>em</strong>bora sejam, no fundo, rigorosamente obrigatórios, sob pena <strong>de</strong> guerra<br />
privada ou pública (MAUSS, 1974, p.45).<br />
8 A retirado do mato que cresc<strong>em</strong> entre as plantações no roçado.<br />
9 Como me referi anteriormente, associativismo po<strong>de</strong> ser entendido como resultado das re<strong>de</strong>s institucionais e<br />
sociais que os atores <strong>de</strong>senvolv<strong>em</strong> <strong>em</strong> nível local ou não, por on<strong>de</strong> o grupo <strong>de</strong>ixa expressar suas interações e<br />
atuações. Essas associações implicam não apenas quadros legais, mas a vida associativa num sentido mais<br />
aberto. De forma que ocorr<strong>em</strong> diversas situações, on<strong>de</strong> se conformam uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> relações importante no<br />
plano social, político, econômico e cultural que expressam o caráter da vida <strong>em</strong> socieda<strong>de</strong> no povoado.<br />
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