Tireoidite linfocítica - Repositório Aberto da Universidade do Porto
Tireoidite linfocítica - Repositório Aberto da Universidade do Porto
Tireoidite linfocítica - Repositório Aberto da Universidade do Porto
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
C - CARACTERÍSTICAS MORFOLÓGICAS DA TIREOIDITE LINFOCÍTICA<br />
A descrição des características morfoló<br />
gicas <strong>da</strong> tireoidite de Hashimoto pelos autores<br />
consagra<strong>do</strong>s (77, 211, 224, 239, 259, 267) faz-nos<br />
pensar que estamos perante uma enti<strong>da</strong>de de morfo<br />
logia muito constante e típica. Efectivamente,<br />
é comum realçar-se, no <strong>do</strong>mínio <strong>da</strong> macroscopia,<br />
o aumento de volume de to<strong>da</strong> a glândula, por vezes<br />
dum mo<strong>do</strong> assimétrico, a consistência firme, o<br />
aspecto lobula<strong>do</strong> e a cor rósea ou branco-amarela<strong>da</strong><br />
<strong>da</strong> superfície de corte. Como características histoló<br />
gicas, aponta-se a transformação oxifllica <strong>do</strong><br />
epitélio tireoideu e o abun<strong>da</strong>nte infiltra<strong>do</strong> linfóide,<br />
com centros germinativos e plasmócitos.<br />
Esta descrição clássica <strong>da</strong> tireoidite<br />
de Hashimoto a<strong>da</strong>pta-se, conforme já referimos,<br />
apenas a alguns casos de tireoidite <strong>linfocítica</strong><br />
difusa, pelo que não pode ser considera<strong>da</strong> como<br />
a mais adequa<strong>da</strong>. A nossa experiência permite-nos<br />
avançar que não existe um padrão morfológico<br />
único na tireoidite <strong>linfocítica</strong> — aliás, como tem<br />
si<strong>do</strong> realça<strong>do</strong> em outros trabalhos de revisão (187,<br />
333, 338).<br />
Já fizemos notar que o grau de infiltra<strong>do</strong><br />
linfóide, bem como a sua disposição, são variáveis.<br />
Neste momento pretendemos destacar outros<br />
aspectos morfológicos de tireoidite <strong>linfocítica</strong>:<br />
as características <strong>da</strong>s células tireoideias e a arqui<br />
tectura <strong>da</strong> glândula.<br />
As células <strong>da</strong>s vesículas tireoideias<br />
não obedecem a um padrão morfológico típico<br />
e muito menos único. As células oxifílicas nem<br />
sempre estão presentes, pelo menos em quanti<strong>da</strong>de<br />
significativa, e, por outro la<strong>do</strong>, não são exclusivas<br />
<strong>da</strong> tireoidite <strong>linfocítica</strong>. E ain<strong>da</strong> frequente observar-<br />
-se em áreas mais ou menos extensas <strong>da</strong> tireóide<br />
de "<strong>do</strong>entes" com tireoidite <strong>linfocítica</strong>, uma estru<br />
tura vesicular morfologicamente semelhante à<br />
<strong>do</strong> parênquima tireoideu normal, assim como não<br />
é raro observar-se um padrão sugestivo de hiperpla-<br />
sia. A presença de grupos de vesículas com epitélio<br />
achata<strong>do</strong> e preenchi<strong>da</strong>s por colóide não é, também,<br />
um acha<strong>do</strong> excepcional.<br />
Esta variabili<strong>da</strong>de justifica que, por<br />
motivos de facili<strong>da</strong>de de apresentação e de sistema<br />
tização, se tente (arbitrariamente) constituir<br />
grupos morfológicos com alguma homogenei<strong>da</strong>de.<br />
Tal procedimento certamente escamoteia o facto<br />
de as fronteiras entre os vários grupos serem<br />
mal defini<strong>da</strong>s e pode sugerir, por outro la<strong>do</strong>, a<br />
ideia de um processo lesionai estático. Ora, <strong>do</strong><br />
processo de tireoidite <strong>linfocítica</strong> temos, como<br />
já afirmámos uma visão dinâmica, em que a variabi<br />
li<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s características morfológicas <strong>do</strong> teci<strong>do</strong><br />
tireoideu, constituin<strong>do</strong> um espectro relativamente<br />
contínuo, é a sua, de certo mo<strong>do</strong>, expressão morfoló<br />
gica.<br />
As características morfológicas <strong>da</strong><br />
estrutura vesicular tireoideia sugerem a existência<br />
de uma correlação, ain<strong>da</strong> que não perfeita, com<br />
determina<strong>da</strong>s situações funcionais. Tal correlação<br />
é no entanto difícil de estabelecer, tanto mais<br />
que são notórias as limitações <strong>da</strong> morfologia na<br />
avaliação <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s funcionais <strong>da</strong>s células tireoi<br />
deias.<br />
E reconheci<strong>do</strong> que na tireoidite linfocí<br />
tica as células tireoideias manifestam alterações<br />
funcionais, nomea<strong>da</strong>mente no que se refere ao<br />
metabolismo <strong>do</strong> io<strong>do</strong> (39, 153, 167, 224, 319, 327,<br />
340). Estas alterações não implicam necessaria<br />
mente modificação <strong>da</strong> morfologia <strong>da</strong>s células<br />
tireoideias (150, 151, 216, 284, 285, 300). Não<br />
surpreende, pois, que na tireoidite <strong>linfocítica</strong><br />
a estrutura vesicular possa ser sobreponível à<br />
<strong>da</strong> tireóide normal.<br />
Embora os <strong>do</strong>entes com tireoidite<br />
<strong>linfocítica</strong> só ocasionalmente manifestem sinais<br />
de hipotireoidismo, é comum apresentarem aumento<br />
<strong>do</strong>s níveis séricos <strong>da</strong> TSH (36, 91, 319). Verifica-se,<br />
pois, que a glândula tireoideia está submeti<strong>da</strong><br />
a estimulação prolonga<strong>da</strong> que, se por um la<strong>do</strong><br />
conduz à compensação <strong>do</strong> hipotireoidismo (analítico,<br />
porque clinicamente nem sempre se manifesta),<br />
por outro la<strong>do</strong> poderá explicar o aparecimento<br />
de um padrão morfológico de hyperplasia.<br />
Mais difícil de explicar é a transforma<br />
ção oxifriica <strong>da</strong>s células tireoideias. As células<br />
oxifílicas não são exclusivas <strong>da</strong> glândula tireoideia<br />
(8, 48, 231) e, nesta glândula, podem ser observa<strong>da</strong>s<br />
80