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Tireoidite linfocítica - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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descritas por este autor (251).<br />

Esta opinião de Ewing teve alguma<br />

aceitação, mas acabou por ser rebati<strong>da</strong>, nomea<strong>da</strong>­<br />

mente na monografia de Cecil A. Joli, publica<strong>da</strong><br />

em 1939 (152). De um mo<strong>do</strong> que nos parece claro<br />

e convincente, este autor demonstrou que a <strong>do</strong>ença<br />

de Hashimoto e a <strong>do</strong>ença de Riedel eram enti<strong>da</strong>des<br />

absolutamente distintas, tanto morfologicamente<br />

como <strong>do</strong> ponto de vista epidemiológico, e que<br />

não podiam ser considera<strong>da</strong>s formas de evolução<br />

<strong>da</strong> tireoidite crónica.<br />

Apesar de terem si<strong>do</strong> publica<strong>do</strong>s alguns<br />

trabalhos importantes sobre a <strong>do</strong>ença de Hashimoto,<br />

como o já referi<strong>do</strong> de Cecil A. Joli, a <strong>do</strong>ença<br />

de Hashimoto não é claramente assumi<strong>da</strong> como<br />

uma enti<strong>da</strong>de na déca<strong>da</strong> de 40. Recorren<strong>do</strong> mais<br />

uma vez a trata<strong>do</strong>s de Anatomia Patológica edita<strong>do</strong>s<br />

nesta época (21, 135, 136, 226), verifica-se que<br />

a <strong>do</strong>ença de Hashimoto é apresenta<strong>da</strong> como asso­<br />

cia<strong>da</strong> à evolução <strong>da</strong> <strong>do</strong>ença de Graves. Efectiva­<br />

mente, a opinião expressa é a que, no bócio exo-<br />

ftálmico de longa duração, "poderá haver áreas<br />

em que a glândula tireoideia se "atrofia", ocorren<strong>do</strong><br />

ocasionalmente infiltração pronuncia<strong>da</strong> de linfócitos<br />

e plasmócitos, com folículos e centros germinativos,<br />

situação a que se pode aplicar a designação de<br />

bócio linfadenóide" (21, 226). Esta interpretação<br />

é também defendi<strong>da</strong> por Levitt, basea<strong>da</strong> num<br />

estu<strong>do</strong> clínico e patológico de 2214 peças de<br />

tireoidectomia (185).<br />

A ocorrência de infiltra<strong>do</strong> linfóide<br />

com centros germinativos na glândula tireoideia,<br />

distinta <strong>da</strong>s lesões de tireoidite crónica, é já<br />

descrita, no início deste século, em situações<br />

de bócio exoftálmico (107). Com Hashimoto,<br />

o infiltra<strong>do</strong> linfóide assume um significa<strong>do</strong><br />

particular, contribuin<strong>do</strong> para a definição <strong>da</strong> enti<strong>da</strong>de<br />

"bócio linfóide". Mas é Max Simmonds, em 1913,<br />

que nos fornece uma perspectiva mais global de<br />

situações tireoideias com infiltra<strong>do</strong> linfóide,<br />

mediante o estu<strong>do</strong> efectua<strong>do</strong> em material necrópsico<br />

(280). Em 75% <strong>do</strong>s casos de bócio por <strong>do</strong>ença de<br />

Graves e em 15% <strong>da</strong>s situações de bócio simples<br />

havia infiltra<strong>do</strong> linfóide focal. Mas também em<br />

5% <strong>da</strong>s glândulas tireoideias sem patologia aparente,<br />

Simmonds encontrou infiltra<strong>do</strong> linfóide focal.<br />

Esta última situação era 5 vezes mais frequente<br />

no sexo feminino e to<strong>do</strong>s os pacientes tinham<br />

mais de 30 anos de i<strong>da</strong>de.<br />

Em trabalho publica<strong>do</strong> em 1923 (281),<br />

Simmonds destaca <strong>do</strong>s casos típicos de <strong>do</strong>ença<br />

de Hashimoto situações em que, além <strong>do</strong> infiltra<strong>do</strong><br />

linfóide e de alterações <strong>da</strong>s células tireoideias<br />

semelhantes às observa<strong>da</strong>s na <strong>do</strong>ença de Hashimoto,<br />

se observava atrofia <strong>da</strong> glândula tireoideia e mani­<br />

festações clínicas de hipotireoidismo.<br />

Desta breve incursão na história <strong>da</strong><br />

patologia tireoideia podemos concluir que as princi­<br />

pais situações tireoideias passíveis de evidenciarem<br />

infiltra<strong>do</strong> linfóide sem conotação com lesões infla­<br />

matórias foram identifica<strong>da</strong>s há mais de 50 anos.<br />

Sobressai ain<strong>da</strong> a interligação entre algumas dessas<br />

situações, nomea<strong>da</strong>mente a <strong>da</strong> <strong>do</strong>ença de Hashimoto<br />

com a <strong>do</strong>ença de Graves e com o mixedema primá­<br />

rio, enquanto o infiltra<strong>do</strong> linfóide focal em tireóides<br />

aparentemente normais e no bócio simples é anota<strong>do</strong><br />

mas pouco valoriza<strong>do</strong>. Estas questões, decorri<strong>do</strong>s<br />

tantos anos, continuam porém actuais.<br />

O diagnóstico <strong>da</strong> <strong>do</strong>ença de Hashimoto<br />

era efectua<strong>do</strong>, até ao fim <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 50, quase<br />

exclusivamente através <strong>do</strong> exame <strong>da</strong>s peças de<br />

tireoidectomia (entre nós, no Norte <strong>do</strong> País, esta<br />

situação manteve-se praticamente até ao inicio<br />

<strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 80 ...). Da<strong>do</strong> que, em princípio, não<br />

está indica<strong>da</strong> a cirurgia na <strong>do</strong>ença de Hashimoto,<br />

alguns en<strong>do</strong>crinologistas preocuparam-se com essa<br />

situação e esforçaram-se por encontrar meios<br />

que possibilitassem efectuar o diagnóstico clínico<br />

e evitar a intervenção cirúrgica. Nessa tarefa<br />

destacou-se D. Doniach e os primeiros resulta<strong>do</strong>s<br />

positivos surgiram no ano dè 1956. Neste ano<br />

ocorreram acontecimentos que abriram novas<br />

perspectivas para o estu<strong>do</strong> <strong>da</strong> patogenia de algumas<br />

situações tireoideias e, dum mo<strong>do</strong> geral, <strong>da</strong>s <strong>do</strong>enças<br />

auto-imunes.<br />

N. Rose e Witebsky verificaram que<br />

injectan<strong>do</strong> coelhos com tireoglobulina, as respecti­<br />

vas glândulas tireoideias apresentavam infiltra<strong>do</strong><br />

linfóide (260). Estes resulta<strong>do</strong>s estimularam<br />

D. Doniach e I. Roitt a estabelecer um paralelismo<br />

entre essa situação experimental e a <strong>do</strong>ença de<br />

Hashimoto, de que resultou a demonstração de<br />

precipitinas (auto-anticorpos) para a tireoglobulina<br />

no soro <strong>do</strong>s <strong>do</strong>entes com a <strong>do</strong>ença de Hashimoto<br />

(75, 255). O interesse por esta situação tireoideia<br />

recrudesceu e a questão <strong>da</strong> patogénese passou a<br />

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