02.06.2013 Views

Tireoidite linfocítica - Repositório Aberto da Universidade do Porto

Tireoidite linfocítica - Repositório Aberto da Universidade do Porto

Tireoidite linfocítica - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

que, neste contexto patogénico, as consequências<br />

morfológicas sejam acentua<strong>da</strong>s pelas variações<br />

cíclicas <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>des de tiroxina, quer por<br />

exigências de esta<strong>do</strong>s patológicos, quer por condicio­<br />

nalismos fisiológicos, sobretu<strong>do</strong> na mulher (318).<br />

Não é possfvel, através <strong>da</strong>s caracterís­<br />

ticas morfológicas <strong>da</strong>s células tireoideias, inferir<br />

o seu esta<strong>do</strong> funcional, pois não se consegue estabe­<br />

lecer uma correlação linear entre a morfologia<br />

e a função <strong>da</strong> uni<strong>da</strong>de vesicular (150, 151, 216,<br />

284, 285, 300). Apesar disto,, supomos não ser<br />

demasia<strong>do</strong> força<strong>do</strong> aceitar, conforme já referimos,<br />

que na tireoidite linfocftica a variabili<strong>da</strong>de morfoló­<br />

gica reflecte, pelo menos em parte, a heterogenei­<br />

<strong>da</strong>de funcional <strong>da</strong> célula tireoideia. Esta ideia<br />

assenta sobretu<strong>do</strong> na extrema variabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s<br />

características ultrastruturais <strong>da</strong>s células tireoi­<br />

deias, de que sobressaem as modificações <strong>do</strong> bor<strong>do</strong><br />

apical e a riqueza relativa de organitos citoplasmá-<br />

ticos.<br />

Sabe-se que as dimensões e a densi<strong>da</strong>de<br />

<strong>da</strong>s microvilosi<strong>da</strong>des <strong>do</strong> bor<strong>do</strong> apical não permitem<br />

deduzir, só por si, o esta<strong>do</strong> funcional <strong>da</strong> célula<br />

tireoideia, embora sejam um notável indica<strong>do</strong>r<br />

desse esta<strong>do</strong> (78, 284). Na tireoidite linfocftica<br />

observam-se células, em número variável, cujo<br />

bor<strong>do</strong> apical apresenta uma pobreza relativa de<br />

microvilosi<strong>da</strong>des — por vezes, notam-se mesmo<br />

áreas de bor<strong>do</strong> rectiliniza<strong>do</strong> — o que traduz uma<br />

diminuição <strong>da</strong> superfície apical, cuja importância<br />

é bem conheci<strong>da</strong> no metabolismo <strong>do</strong> io<strong>do</strong> (82).<br />

Do mesmo mo<strong>do</strong> que esta modificação <strong>do</strong> bor<strong>do</strong><br />

apical aponta para uma alteração <strong>da</strong> função <strong>da</strong><br />

célula tireoideia, também as características <strong>do</strong>s<br />

organitos citoplasmáticos poderão <strong>da</strong>r indicações<br />

sobre o esta<strong>do</strong> funcional, nomea<strong>da</strong>mente a pobreza<br />

<strong>do</strong> retículo en<strong>do</strong>plasmático rugoso, necessário<br />

para a síntese <strong>da</strong> tireoglobulina (77, 78, 82, 304).<br />

Esta questão coloca-se fun<strong>da</strong>mentalmente em<br />

relação às células de citoplasma rico em mitocôn-<br />

drias e pobre em retículo en<strong>do</strong>plasmático rugoso.<br />

Estas células não são metabolicamente pouco<br />

activas (8, 213, 231, 315), mas a sua capaci<strong>da</strong>de<br />

de produção de hormona tireoideia está muitas<br />

vezes diminuí<strong>da</strong> (31, 132, 160, 254).<br />

Do estu<strong>do</strong> imunocitoquímico que efec­<br />

tuámos para demonstração <strong>da</strong> tireoglobulina,<br />

desejamos salientar também <strong>do</strong>is aspectos: a positi­<br />

vi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s células tireoideias não era uniforme<br />

e, na mesma vesícula, notavam-se por vezes células<br />

fortemente "positivas" a par de outras que só o<br />

eram dum mo<strong>do</strong> fraco. A heterogenei<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />

positivi<strong>da</strong>de acentuava-se quan<strong>do</strong> as células oxiffli-<br />

cas pre<strong>do</strong>minavam, aumentan<strong>do</strong> o número de células<br />

fracamente "positivas" ou "negativas" e, diminuin<strong>do</strong><br />

também a positivi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> colóide.<br />

Em face <strong>do</strong> que acabámos de expor parece-nos<br />

poder concluir que existem características ultrastru­<br />

turais e <strong>da</strong><strong>do</strong>s imunocitoquímicos que se coadunam<br />

com uma menor capaci<strong>da</strong>de de produção de tireoglo­<br />

bulina em algumas <strong>da</strong>s células tireoideias, o que<br />

permite sugerir uma diminuição <strong>da</strong> secreção de<br />

hormona tireoideia (160, 161). E evidente que<br />

esta conclusão é compatível com a existência de<br />

outras alterações <strong>do</strong> metabolismo <strong>da</strong> glândula<br />

tireoideia. A deficiência <strong>do</strong>s mecanismos de<br />

en<strong>do</strong>citose poderá ser uma delas (106, 299), o que<br />

se harmoniza com o aspecto denso e pouco<br />

"remaneja<strong>do</strong>" <strong>do</strong> colóide, frequentemente observa<strong>do</strong><br />

nas vesículas revesti<strong>da</strong>s por células oxifflicas, bem<br />

como com o facto de algumas destas vesículas<br />

se apresentarem um pouco distendi<strong>da</strong>s.<br />

Os estu<strong>do</strong>s bioquímicos confirmam<br />

a existência de alterações metabólicas na tireóide<br />

de <strong>do</strong>entes com tireoidite linfocftica (39, 153, 167,<br />

205, 224, 319, 340). Essas alterações envolvem<br />

principalmente o metabolismo <strong>do</strong> io<strong>do</strong>, cujas concen­<br />

trações são significativamente mais baixas no teci<strong>do</strong><br />

com tireoidite <strong>do</strong> que no teci<strong>do</strong> tireoideu normal<br />

(39, 153, 167, 319, 340). Esta diminuição <strong>da</strong> reserva<br />

intratireoideia <strong>do</strong> io<strong>do</strong> é atribuí<strong>da</strong> a um "turn over"<br />

aumenta<strong>do</strong> <strong>do</strong> io<strong>do</strong>, causa<strong>do</strong> pela estimulação<br />

continua<strong>da</strong> <strong>da</strong> tireóide e estaria associa<strong>da</strong> a um<br />

defeito na iodinação <strong>da</strong> tireoglobulina, eventualmente<br />

dependente de produção de tireoglobulina anormal<br />

(340). Não existem estu<strong>do</strong>s suficientes que<br />

esclareçam devi<strong>da</strong>mente as alterações bioquímicas<br />

na tireoidite linfocftica, mas <strong>da</strong><strong>da</strong> a complexi<strong>da</strong>de<br />

metabólica que a função tireoideia implica, é natural<br />

que, à semelhança <strong>do</strong> que se tem descrito no bócio,<br />

as alterações bioquímicas se manifestem a vários<br />

níveis (106, 247, 250, 299).<br />

Na tireoidite linfocftica existe usual­<br />

mente modera<strong>da</strong> elevação <strong>do</strong>s níveis séricos de<br />

TSH (36, 91, 319), a que corresponde uma estimu­<br />

lação pouco intensa e prolonga<strong>da</strong>, como se admite<br />

86

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!