Tireoidite linfocítica - Repositório Aberto da Universidade do Porto
Tireoidite linfocítica - Repositório Aberto da Universidade do Porto
Tireoidite linfocítica - Repositório Aberto da Universidade do Porto
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
tipo I e o <strong>do</strong> tipo III é semelhante à que se observa<br />
no fíga<strong>do</strong> normal (201, 256), mas com o aumento<br />
<strong>da</strong> fibrose (ou o desenvolvimento <strong>da</strong> cirrose) veri-<br />
fica-se que o colagénio <strong>do</strong> tipo I passa a pre<strong>do</strong>minar<br />
(202, 258). Também a fibronectina sofre variações:<br />
sen<strong>do</strong> abun<strong>da</strong>nte nas fases iniciais <strong>do</strong> processo<br />
de fibrogénese, diminui progressivamente à medi<strong>da</strong><br />
que a fibrose aumenta (16, 52).<br />
Esta variação sequencial <strong>do</strong>s componen<br />
tes <strong>da</strong> matriz extracelular foi também observa<strong>da</strong><br />
no granuloma por esquistosoma (7). Na fase inicial<br />
<strong>do</strong> granuloma apenas se detecta fibronectina,<br />
aparecen<strong>do</strong> mais tarde o colagénio <strong>do</strong> tipo III,<br />
para na fase tardia o colagénio <strong>do</strong> tipo I ser o<br />
componente principal <strong>da</strong> matriz intersticial.<br />
Estes factos permitem concluir que<br />
nas fases iniciais (ou recentes) <strong>do</strong> granuloma,<br />
em que a matriz assume um padrão reticulfnico,<br />
a fibronectina, o colagénio <strong>do</strong> tipo III e possivel<br />
mente também componentes <strong>da</strong> lâmina basal,<br />
nomea<strong>da</strong>mente laminina e colagénio <strong>do</strong> tipo IV,<br />
são os principais constituintes <strong>da</strong> matriz, que<br />
se assemelha à <strong>do</strong> teci<strong>do</strong> mesenquimatoso pouco<br />
diferencia<strong>do</strong> (102) e à <strong>do</strong>s processos de reparação<br />
em fase precoce (102). Pode-se também inferir<br />
que o pre<strong>do</strong>mínio de colagénio <strong>do</strong> tipo I traduz<br />
uma fase avança<strong>da</strong> ou crónica <strong>da</strong> fibrose (7, 102).<br />
Na tireoidite <strong>linfocítica</strong> existem, em<br />
princípio, condições para o aparecimento de fibrose.<br />
No infiltra<strong>do</strong> <strong>da</strong> glândula participam células mono/<br />
macrofágicas e, por outro la<strong>do</strong>, os diversos mecanis<br />
mos imunopatogénicos responsáveis pelo desenvolvi<br />
mento <strong>da</strong> "<strong>do</strong>ença" libertam, no teci<strong>do</strong> tireoideu,<br />
linfoquinas capazes de participar no processo<br />
de fibrogénese. Surpreende, pois, que a fibrose<br />
apenas se desenvolva, de mo<strong>do</strong> significativo, em<br />
um número restrito de casos de tireoidite linfocíti<br />
ca.<br />
Conforme já referimos, o facto de<br />
a i<strong>da</strong>de média <strong>do</strong>s <strong>do</strong>entes não variar significativa<br />
mente com a maior ou menor intensi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> fibrose<br />
retira vali<strong>da</strong>de à ideia de que a fibrose, na tireoidite<br />
<strong>linfocítica</strong>, é uma consequência <strong>da</strong> evolução arras<br />
ta<strong>da</strong> <strong>da</strong> "<strong>do</strong>ença". De igual mo<strong>do</strong>, a fibrose intersti<br />
cial, assumin<strong>do</strong> um padrão pre<strong>do</strong>minantemente<br />
reticulfnico e dispon<strong>do</strong>-se difusamente no interstício<br />
<strong>do</strong> parênquima tireoideu, distingue-se <strong>da</strong> fibrose<br />
em ban<strong>da</strong>s e rica em colagénio <strong>do</strong> tipo I, própria<br />
<strong>da</strong>s lesões cicatricials (7, 102).<br />
Em nosso entender, o facto de a fibrose<br />
mais acentua<strong>da</strong> se desenvolver apenas em alguns<br />
casos de tireoidite <strong>linfocítica</strong> poderá ser explica<strong>do</strong><br />
fun<strong>da</strong>mentalmente de <strong>do</strong>is mo<strong>do</strong>s, que não se<br />
excluem mutuamente.<br />
Na referência rápi<strong>da</strong> e sucinta que<br />
fizemos à fibrogénese, indicámos que a fibrose<br />
poderia ser uma consequência <strong>do</strong> desequilíbrio<br />
entre a deposição e a reabsorção de componentes<br />
<strong>da</strong> matriz extracelular. Cremos que este desequilí<br />
brio poderá ser invoca<strong>do</strong> para explicar a fibrose<br />
em alguns casos de tireoidite <strong>linfocítica</strong>. Existem<br />
condições para deposição aumenta<strong>da</strong> de componen<br />
tes <strong>da</strong> matriz, nomea<strong>da</strong>mente fibronectina e colagé<br />
nio <strong>do</strong>s tipos I e III, sen<strong>do</strong> menos claro o que se<br />
poderá passar no <strong>do</strong>mínio <strong>da</strong> degra<strong>da</strong>ção enzimática.<br />
E ain<strong>da</strong> possível que o desequilíbrio apenas se<br />
verifique em alguns casos e seja de mo<strong>do</strong> a permitir<br />
acumulação sobretu<strong>do</strong> de fibronectina e de colagénio<br />
<strong>do</strong> tipo III, mas insuficiente para conduzir a acumu<br />
lação progressiva e significativa de colagénio<br />
<strong>do</strong> tipo I.<br />
A outra explicação que avançamos<br />
para justificar a ocorrência de fibrose na tireoidite<br />
<strong>linfocítica</strong> assenta em bases imunológicas. Na<br />
tireoidite de Riedel verificou-se que as células<br />
IgA "positivas" apareciam numa percentagem<br />
bastante alta (121), facto que contu<strong>do</strong> não compro<br />
vamos no grupo <strong>da</strong>s tireoidites <strong>linfocítica</strong>s com<br />
fibrose. E no entanto possível que possa existir<br />
uma relação entre o desenvolvimento de fibrose<br />
e determina<strong>do</strong>s mecanismos auto-imunes. Nesta<br />
ordem de ideias poderá ser interpreta<strong>da</strong> a associação<br />
<strong>da</strong> tireoidite <strong>linfocítica</strong> com processos fibrosantes<br />
a que se tem atribuí<strong>do</strong> uma patogénese de base<br />
auto-imune, como a fibrose retroperitoneal idiopá-<br />
tica (286) e a esclerodermia (6, 114).<br />
Os componentes <strong>da</strong> matriz extracelular<br />
exibem determinantes antigénicos, o que permite<br />
nomea<strong>da</strong>mente a sua identificação mediante técni<br />
cas de imuno-histoquímica. No ratinho está demons<br />
tra<strong>do</strong> que a resposta imune para diversos tipos<br />
de colagénio é regula<strong>da</strong> por genes H-2 <strong>do</strong> sistema<br />
"major" de histocompatibili<strong>da</strong>de (163). Passan<strong>do</strong><br />
para o campo <strong>da</strong> patologia humana, são conheci<strong>da</strong>s<br />
<strong>do</strong>enças de base imunopatogénica em que a agressão<br />
84